Nas diferenças entre a ciência moderna e o senso comum (...), está implícita a diferença importante que deriva de uma estratégia
deliberada da ciência que a leva a expor as suas propostas cognitivas ao confronto repetido
com dados observacionais criticamente comprovativos, procurados sob condições
cuidadosamente controladas.
Isto não significa, no entanto, que as crenças do senso
comum sejam invariavelmente erradas, ou que não tenham quaisquer fundamentos em
factos empiricamente verificáveis. Significa que, por uma questão de princípio
estabelecido, as crenças do senso comum não são sujeitas a testes sistemáticos
realizados à luz de dados obtidos para determinar se essas crenças são fidedignas e qual é
o alcance da sua validade. Significa também que os dados admitidos como relevantes
na ciência devem ser obtidos através de procedimentos instituídos com o objectivo de
eliminar fontes de erro conhecidas. Deste modo, a procura de explicações na
ciência não conseguiste simplesmente em tentar obter "primeiros
princípios" que sejam plausíveis à primeira vista e que possam vagamente dar conta dos
"factos" da experiência habitual. Pelo contrário, essa procura consiste em tentar obter
hipóteses explicativas que sejam genuinamente testáveis, porque se exige que elas tenham
consequências lógicas suficientemente precisas para não serem compatíveis com
quase todos os estados de coisas concebíveis. As hipóteses procuradas devem assim
estar sujeitas à possibilidade de rejeição, que dependerá dos resultados dos procedimentos
críticos, inerentes à pesquisa científica, destinados a determinar quais são os
verdadeiros factos do mundo.
Ernest Nagel in The Structure of Science, Nova Iorque, Harcourt, Brace & World, 1961