O Tempo e o Sentido - por João Ramos (11º ano)

Quando perguntamos a alguém se a sua vida tem sentido e essa pessoa nos responde “Sim!”, normalmente, o seu sentido de vida é um projecto, um objectivo ou uma meta a atingir. Agora pergunto: uma pessoa que chegue á velhice com os seus projectos cumpridos deixa de ter sentido de vida? Não e as ambições como sentido de vida encontram-se excluídas.
Tomemos agora como sentido de vida o tempo. A ideia de tempo traz sempre subjacente o conceito de finitude. Algo com um inicio. Algo com um fim. Algo como a vida humana. Posto isto, regressemos ao passado, mais propriamente, ao inicio da vida, sob o ponto de vista cristão. Tendo em conta o que a Bíblia transmite, podemos concluir que foi Adão que provocou a morte do Homem. Por um só homem a eternidade acabou. Por um só homem o tempo acabou. Por causa de UM homem a humanidade foi condenada ao tempo, aos limites de fim e de inicio. Agora, o ser humano nasce, e vive a pensar quando irá morrer; se é hoje, se é amanhã, … Será então o Homem definido pela acção futura? Não. Apesar de pensar no futuro, cada um é aquilo que é, não pelo que há-de ser, mas pelo que foi. O que eu faço, o que eu não faço. O que eu escolho, o que eu não escolho. É isto que me torna no que sou.
Então mas e se Adão não tivesse sido trincado a maçã? Seria o Homem do séc. XXI eterno? Provavelmente. Mas a verdadeira pergunta é: será que o ser humano poderia ser "condicionado" pela eternidade?
Por definição, eternidade é ausência de tempo; é uma duração sem limites de inicio e de fim. Sendo assim, o Homem tornar-se-ia num Sem-Tempo, podendo ser comparado a um Deus. De novo sob o ponto de vista cristão, o ser humano foi criado por um Deus e como todas as criações, temos, pelo menos, um defeito. A borracha (des)gasta-se. As plantas ardem. O homem morre. É o ciclo da vida. Nascer. Viver. Morrer. Caso isto não aconteça, o equilíbrio do Mundo pode ser danificado. Pelo que o Homem nunca poderia ser "condicionado" pela eternidade.
Apesar de não podermos ser comparados a deuses, se calhar até somos condicionados por estes. Para um Deus controlar a vida das pessoas, este iria precisar de um plano pré-traçado, o chamado destino. Deste modo, tudo o que nós fizéssemos já um Deus teria escolhido: era aquilo que nós iríamos fazer. Assim as nossas escolhas seriam inúteis, pois o que para nós era o mais certo a fazer, para Ele era o destino; o que para nós era um “desvio”, para Ele era o que estava traçado. O ser humano seria assim um actor a tempo inteiro, cuja única função seria interpretar o papel que lhe era destinado. Será o dom da vida um coisa tão insignificante? Seremos nós uns meros fantoches nas mãos de uma entidade divina? Penso que não. Pelo que o Homem também não pode ser predisposto por um Deus
Por último, e talvez um dos sentidos de vida mais habituais, temos o amor. Em todas as relações amorosas há um elo mais forte e um elo mais fraco. O elo mais fraco é subjugado pelo mais forte. O elo mais forte quase que “domestica” o mais fraco, condicionando-lhe as acções, através da imposição de regras e leis morais. Agora: se nós nos sentimos ofendidos e revoltados por pensarmos, por exemplo, que há uma entidade divina que nos controla a vida como é que uma pessoa, no seu perfeito juízo, se deixa “domesticar” por um ser tão reles, tão mísero, tão ao mesmo nível que nós? Não deixa, ou pelo menos não devia deixar. Pelo que quando alguém diz “A minha vida pertence-te!” está a cometer o erro mais grave da sua vida, porque apesar de estarem ligados por um sentimento, cada um deve comandar a sua vida. Pois senão, a outra pessoa estaria a viver duas vidas: a sua e a do seu “par”. E se só temos uma vida e uma oportunidade (até ver), por alguma razão há-de ser. Pelo que, o mais normal sentido de vida pode tornar-se o mais impensável deles todos, como é o caso das relações amorosas.
Concluo afirmando que o sentido de vida, que transporta dentro de si lógica, é o próprio tempo. Algo abstracto, e concreto simultaneamente. Algo que nos diz que agora temos que escolher, como também nos diz que não é o melhor momento.

João Ramos