Mito - classificação quanto ao conteúdo

- Mito teológico – relata o nascimento dos deuses, os seus matrimónios e genealogias; 
- Mito cosmogónico – debruça-se sobre a criação e o ordenamento do mundo e os seus elementos constitutivos; 
- Mito antropogónico – apresenta a criação do homem; 
- Mito soteriológico – apresenta o universo da iniciação e dos mistérios, das catábases e dos percursos purificadores; 
- Mito cultural – narra a actividade de heróis que, tal como Prometeu, melhoram as condições do homem; 
- Mito etiológico – explica a origem das coisas e das pessoas; pesquisa as causas por que se formou uma tradição, procurando em especial encontrar episódios que justifiquem nomes; 
- Mito naturalista – justifica miticamente os fenómenos naturais, telúricos, astrais, atmosféricos; 
- Mito moral – relata as lutas entre o Bem e o Mal, entre anjos e demónios, entre forças e elementos contrários; 
- Mito escatológico; descreve o futuro, o homem após a morte, o fim do mundo”
Não é por acaso que muitos relatos se iniciam com a fórmula «Naquele tempo…», é a referência a in illo tempore, o tempo primordial, «o começo do Mundo», o tempo da origem ou da regeneração. 
O mito de ontem, da cultura helénica ou mesmo da romana, era a história de um ser divino, mas o mesmo se pode afirmar relativamente à cultura dos Celtas ou dos Buchimanes. 
Pois, também estes povos, tal como os gregos e os romanos, em dado momento da sua história sentiram a necessidade de explicar o mundo. Por isso, para cada fenómeno cosmogónico ou antropogónico, havia que encontrar a razão de ser, a justificação plausível. E, para tal, nada podia ser mais adequado que um deus quer ele se chamasse Zeus, Júpiter, Odin ou Gaua, satisfaria esta necessidade. Ao deus é reconhecido o poder de criar, transformar ou destruir o mundo ou o homem, de acordo com os ditames da sua divina vontade. É a consciência da existência de forças superiores ao homem e que, por isso, estão fora do seu domínio, o leva a criar o deus ou deuses a quem atribui o poder e justifica a sua impotência perante os fenómenos naturais, por exemplo. Podemos dizer que o mito é universal e que, ontem como hoje, é equivalente a acto heróico, invulgar, façanha cometida. No mundo helénico ou na Roma antiga só os feitos dos deuses mereciam ser relatados e, quando as proezas humanas eram dignas de registo, aqueles que as cometiam eram de imediato deificados ou alcandoravam-se eles próprios à categoria de deuses e semi-deuses. Se nas culturas europeias, em regra, para cada para cada fenómeno existia um deus diferente, já nas culturas africanas tal não acontece, uma vez que nestas o deus é sempre o mesmo, contudo, variando de nome. Ele é Gaua para os Buchimanes, Huco para os Hereros, Nhanecas, Humbes, Kuanhamas e Kalunga para os Mhuilas. 
Nos dias de hoje todo o acto invulgar, da política ao futebol, ganha foros de mito e os protagonistas das respectivas histórias são os novos heróis míticos em torno dos quais se constroem as mais diversas historias, ou antes, contos. 
Os mitos, e referimo-nos aos mitos da idade clássica, são, em muito, semelhantes aos contos tradicionais, pois neles como nestes, existem diferentes funções, as unidades narrativas mínimas de que nos fala Propp e, se outras semelhanças não houvesse, também eles são veículo transmissor da cultura de uma determinada sociedade. 
O mito é tão-somente o conto tradicional que contem uma referência a algo de importância colectiva, como o é Gaua para os Buchimanes e Zeus para os helenos. Não há grande diferença entre alguns contos tradicionais e o mito, pois quer nos aspectos formais quer nos de conteúdo pode haver similitude. 
Segundo Victor Jabouille, citando A. Lalande no seu Vocabulaire de la Philosophie, diz que mito é: 
Narrativa fabulosa de origem popular e não reflexiva, na qual os agentes impessoais, na maior parte dos casos as forças da natureza, são representados sob formas de seres personificados, cujas acções ou aventuras têm um sentido simbólico […]
E, mais adiante, cintando G.B.Vico, (1668-1744), em La Scienza Nuova, diz a respeito do mito: 
[…] este reflectia uma forma de verdade parcial, talvez intuída, mas que relaciona o homem com o transcendente. A mitologia era, pois, uma representação fantástica da realidade, uma expressão espontânea e primitiva da experiência humana. Para se compreender a poesia de Homero era necessário conhecer os deuses em que o poeta acreditava: o mito era o espelho em que se reflectia toda a história da humanidade primitiva. […]
De todas quantas definições existem de mito, Jabouillhe diz que é particularmente feliz a de Fernando Pessoa, num poema dedicado a Ulisses, em que retrata o carácter ambíguo que o conceito de mito encerra: o mito é o nada que é tudo.
Assim, e ainda segundo Jabouillhe, o que o homem pretende do mito é: 
Uma resposta teológica às suas aspirações, uma compreensão mais vasta que o integre, de uma forma sacral, no macrocosmo a que pertence e simultaneamente, um encontro consigo próprio e com a divindade, encontro que lhe traga a Paz e a Fé. Mas também uma integração social, uma personalização da sociedade circundante, um dimensionamento microcosmático do Universo; inversamente, uma generalização, uma socialização dos seus problemas individuais, uma projecção do ego numa escala dimensionada cosmicamente, uma compreensão do SER que não passa apenas pela via ontológica. O mito pode ainda assumir uma dimensão histórica: nele o homem reconhece as suas origens, as suas tradições, e esta perspectiva pode tornar-se nacional. Ao encontrar-se com o passado, ao integrar-se num fluido temporal e existencial definido, é também a si que o homem se encontra.
Assim, dado o vasto universo que abarca, torna-se difícil encontrar uma definição única para a palavra mito. Contudo, é, fundamentalmente, uma estrutura narrativa, um modo de comunicação, sobre a sua substância, o que permite a sua extensão a um universo quase infinito. O mito pertence a um sistema semiológico, que faz dele simultaneamente código e mensagem e, quer acreditemos nele ou não, não tem outro fim senão ele próprio. É, talvez a ausência de fronteiras, a característica que nos faz sentir tão atraídos por ele, que o torna parte integrante do espírito humano e o torna essencial ao pensamento. 
É na assunção de uma dimensão histórica em que o homem se encontra com o passado, se integra no fluido temporal e se reconhece que, por vezes, o mito se assemelha à lenda.
S/ autor - repositorioaberto.uab.pt