Dia Mundial da Árvore - alegorias (Museu de Aveiro)

Num mundo em que a imagem transmitia mensagens e significados importantes, particularmente aos iletrados, as plantas, flores e frutos adquiriam simbolicamente características humanas. E a árvore significava a vida humana, as flores a esperança, os frutos as obras realizadas, os ramos os desejos, as folhas as palavras, as raizes os cuidados e a raiz em si mesma o segredo.
A árvore é figura do homem e o próprio significado seu, porque nela, diz Santo Ambrósio, há viver e morrer, crescer e decrescer, como no homem.
Nela, diz Plínio, que há mocidade e velhice: doenças gerais e particulares, como no homem.
Dela, diz Colunela, que padece fome e sede, como o homem e que tanto lhe faz mal a sobejidão do alimento, como a falta dele.
Dela, diz Santo Agostinho, que vive enquanto reverdece e morre quando seca e murcha.
Plutarco por encarecimento diz que as árvores têm fraqueza e mostram que sentem dores quando lhes quebram ou cortam os ramos. O sol as seca, frios as queimam, névoas lhes fazem mal, quenturas as abrasam, águas as apodrecem, ventos as combatem, tempestades as destroem e enfim muitas coisas lhes são adversas e outras favoráveis, como sucede aos homens. Também se diz das árvores que após admiráveis concebimentos de cada ano, têm fecundos partos com os quais aparecem quando descobrem flores, e então tem cuidado de criar os filhos que dão os frutos maduros e sazonados. As árvores são amigas entre si e folgam com a companhia das outras.
Teófrasto diz que assim como o exterior do homem mostra os poucos ou muitos anos que têm, assim as árvores nas aparências mostram sua idade.
Por estas e outras razões têm as árvores muita simpatia e semelhança com os homens e metaforicamente são eles significados nelas.
Assim diz São Gregório que o homem em sua criação é árvore que cresce, e na tentação folha que se move, e na fraqueza flor que cai. É o homem árvore e por isso em grego se chama Antropos que quer dizer árvore que tem as raízes para cima e os ramos para baixo. (...)

in: Tratado das Significações das Plantas, Flores, e Frutos que se referem na Sagrada Escritura,
Frei Isidoro de Barreira (Lisboa, 1622) – Transcrição livre (Museu de Aveiro)