“O sentido da existência não é a própria existência bruta, mas o valor que a existência pode trazer” - Arthur Schopenhauer
“Quem somos?”, “De onde vimos?”, “Para onde vamos?”, “Para que nascemos?”, ”O que há depois da morte?”. Todas estas interrogações levam-nos a colocar uma questão fundamental: “Qual é o sentido da existência humana?”. (...).
Perguntar pelo sentido da vida é questionar para quê viver – finalidade; se viver tem alguma razão de ser, se existe um fio condutor da nossa existência; se ela não é apenas um aglomerado de acontecimentos; se vale a pena ou se possui algum significado.
Quando se diz “estar a procurar o sentido da vida”, refere-se ao que tem sentido algo que foi concebido de acordo com determinado fim. Deste modo, o sentido de uma palavra ou frase é o que ela quer dizer; o sentido de um objecto é aquilo para o que se pretende que sirva; o sentido de uma obra de arte é o que o seu autor quer expressar, etc.
Ou seja, o que interessa para determinar e definir o sentido de qualquer coisa é a intenção que o anima. Em todos os casos, a intenção está ligada à vida, estando ambas indissoluvelmente ligadas; onde não há vida, não há intenção e, por conseguinte, deixa de haver sentido. Quer isto dizer que se as intenções vitais são a única resposta à pergunta pelo sentido, como poderia ter “sentido” a vida? Se todas as intenções remetem como última referência para a vida, que “intenção” poderia ter a própria vida no seu conjunto?
Por outras palavras, se nos perguntarmos “que quer a vida?”, as únicas respostas – viver e ainda viver – levam-nos de novo à própria vida sobre a qual nos perguntamos. Para encontrar o sentido da vida, devemos procurar outra coisa para além da vida.
Muitos procuram esse tal sentido da existência e também o sentido do ser humano, na sua essência íntima, fora da religião e das crenças religiosas. Porém, outros procuram-nos a partir dessas mesmas crenças.
A religião baseia-se em geral na abertura humana a uma realidade transcendente e absoluta, gerando a esperança de salvação e pretende revelar ao Homem o seu sentido último. Trata-se portanto do sentido último e absoluto da vida e não de sentidos pragmáticos, relativos ou parciais; trata-se de aceitar que Deus é o Sentido Supremo, o que dá Sentido a todos os Sentidos. A religião afirma que o homem irá encontrar o sentido da sua existência na fé em Deus e que a vida não acaba com a morte e que esta é, sob certas condições, o caminho para uma existência mais feliz e plena.
Kierkegaard, Pai do existencialismo, afirmou que a existência humana só é verdadeira e autêntica se for relação com Deus. Sem Deus o Homem (Homem= realidade no qual confluem dois vectores: o finito e o infinito) está condenado ao desespero.
Citando o filósofo dinamarquês: “Fala-se muito de desperdiçar a própria vida. Mas a única vida desperdiçada é a de quem viveu de tal modo iludido pelas prazeres e contratempos da vida, que nunca se tornou decisivamente, eternamente, consciente de si mesmo como espírito ou indivíduo ou, o que dá no mesmo, nunca se apercebeu de que há um Deus e que ele próprio existe perante Deus. Tantos vivem assim as suas vidas…Toda a existência humana não consciente de si como espírito (não consciente de si como necessidade de Deus), toda a existência humana que não está transparentemente fundada em Deus, mas de forma opaca assenta ou está imersa nalgum universal abstracto ou na ignorância acerca de si próprio…tal existência, por mais notáveis que sejam as suas realizações e sucessos, nada mais é do que desespero (…)”.
Em contrapartida para vários filósofos, em ocorrência Nietzsche e Marx, é contestável que a religião possa dar um sentido positivo à vida.
Em Nietzsche a religião consiste numa alienação, numa forma de desvalorização do Homem. A religião cristã representa o ponto culminante e extremo do idealismo, do moralismo e da metafísica.
O filósofo prussiano considera que a religião é a negação da realidade, sendo o fruto do delírio dos doentes da vida, daqueles que são incapazes de enfrentar a sua complexidade e que, não podendo suportar uma realidade que os faz sofrer, inventaram um outro mundo. O ressentimento, o ódio, a vontade de vingança sobre aqueles que dizem sim a esta vida está na origem da necessidade da religião.
Assim sendo, Deus para Nietzsche não é somente o objecto de fé de certos crentes mas também o pilar do mundo supra-sensível ou metafísico do qual o mundo sensível ou do devir depende. Então dizer que “Deus morreu” significa que o mundo metafísico ou supra-sensível se desmoronou, que o dito fundamento de toda a realidade desapareceu. A vida humana perdeu o seu fundamento.
Por sua vez, Marx afirma que a religião é um obstáculo ao progresso e à libertação do Homem explorado porque sempre legitimou o domínio dos poderosos e exploradores. Segundo este pensador, o Homem não pode esperar da religião a sua libertação e emancipação uma vez que ela é um “sintoma” da desumanidade do mundo dos homens e não o remédio para esse mal.
Na sua “Crítica da Filosofia de Hegel” disse o seguinte: “A religião é a realização fantástica do ser humano, não possui verdadeira realidade. Lutar contra a religião é pois, lutar contra esse mundo, de que a religião é o aroma espiritual. (…) A religião não passa do sol ilusório que gravita em volta do Homem, enquanto o Homem não gravita em volta de si mesmo.”
O existencialismo caracteriza-se por ser uma visão mais lúcida do que é a vida, uma vez que tudo é fruto do acaso. Este facto remete-nos para a grande tragédia da vida - a existência da morte - o que gera uma tremenda angústia para todos os que pensam. Dito por outras palavras, o Homem sabe-se mortal e é esse destino que o desperta para a tarefa de pensar. A sua primeira reacção diante da certeza da morte é de desespero angustiado. Que comportamento lhe ditará o desespero? Medo perante tudo o que ameaça de acelerar o seu fim, avidez de acumular o que lhe parece dar resguardo diante da morte e, por fim, ódio relativamente àqueles que lhe disputam esses bens. Quem tem medo do nada, precisa de tudo. Essas são as três características de viver o desespero, introduzindo assim o mal-estar e a angústia da morte a cada momento de prazer e alegria.
(...) A religião responde ao mistério da existência humana apontando para este um sentido transcendente: a nossa existência não se reduz a esta vida ou à relação com as coisas deste mundo, prometendo salvar a alma e ressuscitar o corpo.
Pelo contrário, a filosofia não salva nem ressuscita mas apenas pretende levar até onde for possível a “aventura” do sentido humano, a exploração dos significados. Não rejeita a realidade da morte, não se deixa embuir desesperadamente pelo medo, pela avidez ou pelo ódio.
Citando Peter Singer: “Uma vida humana ética tem sentido porque tem valor, apesar de ser finita. E tem valor porque a acção ética tem valor. A resposta para o sentido da vida não reside na imortalidade mas antes no valor das nossas acções e projectos. Desde que as nossas acções e projectos tenham um valor universal, a nossa vida terá sentido”.
“Quem somos?”, “De onde vimos?”, “Para onde vamos?”, “Para que nascemos?”, ”O que há depois da morte?”. Todas estas interrogações levam-nos a colocar uma questão fundamental: “Qual é o sentido da existência humana?”. (...).
Perguntar pelo sentido da vida é questionar para quê viver – finalidade; se viver tem alguma razão de ser, se existe um fio condutor da nossa existência; se ela não é apenas um aglomerado de acontecimentos; se vale a pena ou se possui algum significado.
Quando se diz “estar a procurar o sentido da vida”, refere-se ao que tem sentido algo que foi concebido de acordo com determinado fim. Deste modo, o sentido de uma palavra ou frase é o que ela quer dizer; o sentido de um objecto é aquilo para o que se pretende que sirva; o sentido de uma obra de arte é o que o seu autor quer expressar, etc.
Ou seja, o que interessa para determinar e definir o sentido de qualquer coisa é a intenção que o anima. Em todos os casos, a intenção está ligada à vida, estando ambas indissoluvelmente ligadas; onde não há vida, não há intenção e, por conseguinte, deixa de haver sentido. Quer isto dizer que se as intenções vitais são a única resposta à pergunta pelo sentido, como poderia ter “sentido” a vida? Se todas as intenções remetem como última referência para a vida, que “intenção” poderia ter a própria vida no seu conjunto?
Por outras palavras, se nos perguntarmos “que quer a vida?”, as únicas respostas – viver e ainda viver – levam-nos de novo à própria vida sobre a qual nos perguntamos. Para encontrar o sentido da vida, devemos procurar outra coisa para além da vida.
Muitos procuram esse tal sentido da existência e também o sentido do ser humano, na sua essência íntima, fora da religião e das crenças religiosas. Porém, outros procuram-nos a partir dessas mesmas crenças.
A religião baseia-se em geral na abertura humana a uma realidade transcendente e absoluta, gerando a esperança de salvação e pretende revelar ao Homem o seu sentido último. Trata-se portanto do sentido último e absoluto da vida e não de sentidos pragmáticos, relativos ou parciais; trata-se de aceitar que Deus é o Sentido Supremo, o que dá Sentido a todos os Sentidos. A religião afirma que o homem irá encontrar o sentido da sua existência na fé em Deus e que a vida não acaba com a morte e que esta é, sob certas condições, o caminho para uma existência mais feliz e plena.
Kierkegaard, Pai do existencialismo, afirmou que a existência humana só é verdadeira e autêntica se for relação com Deus. Sem Deus o Homem (Homem= realidade no qual confluem dois vectores: o finito e o infinito) está condenado ao desespero.
Citando o filósofo dinamarquês: “Fala-se muito de desperdiçar a própria vida. Mas a única vida desperdiçada é a de quem viveu de tal modo iludido pelas prazeres e contratempos da vida, que nunca se tornou decisivamente, eternamente, consciente de si mesmo como espírito ou indivíduo ou, o que dá no mesmo, nunca se apercebeu de que há um Deus e que ele próprio existe perante Deus. Tantos vivem assim as suas vidas…Toda a existência humana não consciente de si como espírito (não consciente de si como necessidade de Deus), toda a existência humana que não está transparentemente fundada em Deus, mas de forma opaca assenta ou está imersa nalgum universal abstracto ou na ignorância acerca de si próprio…tal existência, por mais notáveis que sejam as suas realizações e sucessos, nada mais é do que desespero (…)”.
Em contrapartida para vários filósofos, em ocorrência Nietzsche e Marx, é contestável que a religião possa dar um sentido positivo à vida.
Em Nietzsche a religião consiste numa alienação, numa forma de desvalorização do Homem. A religião cristã representa o ponto culminante e extremo do idealismo, do moralismo e da metafísica.
O filósofo prussiano considera que a religião é a negação da realidade, sendo o fruto do delírio dos doentes da vida, daqueles que são incapazes de enfrentar a sua complexidade e que, não podendo suportar uma realidade que os faz sofrer, inventaram um outro mundo. O ressentimento, o ódio, a vontade de vingança sobre aqueles que dizem sim a esta vida está na origem da necessidade da religião.
Assim sendo, Deus para Nietzsche não é somente o objecto de fé de certos crentes mas também o pilar do mundo supra-sensível ou metafísico do qual o mundo sensível ou do devir depende. Então dizer que “Deus morreu” significa que o mundo metafísico ou supra-sensível se desmoronou, que o dito fundamento de toda a realidade desapareceu. A vida humana perdeu o seu fundamento.
Por sua vez, Marx afirma que a religião é um obstáculo ao progresso e à libertação do Homem explorado porque sempre legitimou o domínio dos poderosos e exploradores. Segundo este pensador, o Homem não pode esperar da religião a sua libertação e emancipação uma vez que ela é um “sintoma” da desumanidade do mundo dos homens e não o remédio para esse mal.
Na sua “Crítica da Filosofia de Hegel” disse o seguinte: “A religião é a realização fantástica do ser humano, não possui verdadeira realidade. Lutar contra a religião é pois, lutar contra esse mundo, de que a religião é o aroma espiritual. (…) A religião não passa do sol ilusório que gravita em volta do Homem, enquanto o Homem não gravita em volta de si mesmo.”
O existencialismo caracteriza-se por ser uma visão mais lúcida do que é a vida, uma vez que tudo é fruto do acaso. Este facto remete-nos para a grande tragédia da vida - a existência da morte - o que gera uma tremenda angústia para todos os que pensam. Dito por outras palavras, o Homem sabe-se mortal e é esse destino que o desperta para a tarefa de pensar. A sua primeira reacção diante da certeza da morte é de desespero angustiado. Que comportamento lhe ditará o desespero? Medo perante tudo o que ameaça de acelerar o seu fim, avidez de acumular o que lhe parece dar resguardo diante da morte e, por fim, ódio relativamente àqueles que lhe disputam esses bens. Quem tem medo do nada, precisa de tudo. Essas são as três características de viver o desespero, introduzindo assim o mal-estar e a angústia da morte a cada momento de prazer e alegria.
(...) A religião responde ao mistério da existência humana apontando para este um sentido transcendente: a nossa existência não se reduz a esta vida ou à relação com as coisas deste mundo, prometendo salvar a alma e ressuscitar o corpo.
Pelo contrário, a filosofia não salva nem ressuscita mas apenas pretende levar até onde for possível a “aventura” do sentido humano, a exploração dos significados. Não rejeita a realidade da morte, não se deixa embuir desesperadamente pelo medo, pela avidez ou pelo ódio.
Citando Peter Singer: “Uma vida humana ética tem sentido porque tem valor, apesar de ser finita. E tem valor porque a acção ética tem valor. A resposta para o sentido da vida não reside na imortalidade mas antes no valor das nossas acções e projectos. Desde que as nossas acções e projectos tenham um valor universal, a nossa vida terá sentido”.
in: http://filosurfar.blog.com