Dédalo e Ícaro - o mito

"Dédalo era um soberbo inventor, que trabalhava vulgarmente com o seu sobrinho Talo, do qual estava encarregado da educação.
Talo, um dia, após passear pela praia, viu o esqueleto de um peixe, forma na qual se viria a inspirar para criar a primeira serra. Com alguma inveja, Dédalo tentou matar este seu sobrinho, atirando-o de um sítio alto. Contudo, antes que atingisse o chão, os deuses interviriam, e o jovem foi transformado numa perdiz, que voou para evitar a desgraça iminente.
Culpado de homicídio, Dédalo foi obrigado a abandonar a cidade natal, indo refugiar-se em Creta, a ilha do famoso rei Minos . Aí, foi incumbido de construir um labirinto, onde o famoso Minotauro viria a ser aprisionado.
Seria, mais tarde, impedido de deixar esta ilha, altura em que concebeu a sua mais famosa invenção, umas asas que lhe permitiriam voar. Pretendia, juntamente com o filho, usá-las para escapar da ilha. No entanto, as coisas não iriam correr bem para o pequeno Ícaro. Ignorando os conselhos de Dédalo, voou demasiado alto, o que fez com que a cera que prendia as asas derretesse, precipitando-o no mar. Quanto a Dédalo, escapou da sua prisão e passou a viver na ilha da Sicília.
 
Apesar deste mito apresentar diversos pormenores bastante interessantes, é sempre dada especial relevância às asas usadas pelos dois heróis. Somente muitos séculos mais tarde é que a humanidade foi capaz de cruzar os céus, mas ainda hoje se podem entender estas asas como sendo as da imaginação humana que, ao tentar obter o que lhe parece impossível, acaba sempre por criar novos, e mais ousados, objectivos.
Ainda assim, é preciso ter algum cuidado com a forma como se pretendem alcançar esses propósitos - quiçá para tentar equiparar-se a Hélio, Ícaro voou mais alto, uma acção impensada que o precipitou para um mar  eterno. Tendo o mito em mente, torna-se mais claro que os os humanos deverão, também eles, pensar nas consequências reais dos seus actos.
Contudo, existe ainda um outro pormenor que deve ser analisado. Contrariamente à parte final do mito, em que Dédalo é mostrado como um genial inventor, o episódio que leva à sua expulsão de Atenas é o de um mero mortal. Contrariamente ao que sucede com Orfeu, Herácles ou Odisseu , Dédalo é mostrado como alguém com falhas humanas, entre elas a inveja. Tendo em conta que é esta a mesma figura que, anos mais tarde, incita Ícaro a um prudência certamente adquirida com o avançar da idade, surge-nos uma interessante dualidade - tem-se a curiosidade juvenil de Ícaro, oposta à experiência de um maduro Dédalo, que parece ter aprendido com os erros do passado.
Enquanto que a ousadia de Ícaro é certamente um dos mais importantes aspectos da mente humana, é também necessário viver com a prudência  de Dédalo, sem a qual algumas decisões se podem tornar muito perigosas. Há que saber quando se deve arriscar e quando se devem retrair os impulsos curiosos, e acaba por ser essa uma das mais importantes lições a tirar deste mito."