O homem é o lobo do homem

Ao longo de centenas de milhar de anos a evolução dos animais e das plantas tem sido determinada pela necessidade de cada espécie melhorar as suas hipóteses de sobreviver aos seus predadores, de se alimentar e de se reproduzir, garantindo assim a preservação e a continuidade da respectiva espécie. De todos os seres vivos que se deslocam, o Homem foi o único que, além de evoluir para garantir e satisfazer as suas necessidades básicas, e porque é dotado de inteligência superior, começou a evoluir para garantir também o seu bem-estar e para superar as barreiras das suas limitações físicas, criando uma tecnologia que hoje lhe permite voar mais alto e mais rápido do que os animais que voam, deslocar-se na água mais velozmente do que os animais aquáticos, mergulhar mais fundo e durante mais tempo do que os que mergulham, atingir em terra maior velocidade do que os animais que correm e comunicar entre si não só à distância que a voz alcança, mas também levar a voz e a imagem num piscar de olhos a todos os cantos do nosso Mundo... e de outros mundos.
Os novos conceitos de alimentação permitem-lhe criar seres maiores e mais robustos. A Medicina permite-lhe curar doenças e epidemias que lhe seriam fatais e prolongar a sua vida natural. A arte de construir permite-lhe criar lares onde, para viver, se rodeia de confortos e de tecnologias, bem diferentes das tocas dos outros animais, e além disto ainda explora o Espaço e outros planetas, tudo enfim, coisas e luxos, pequenos e grandes que não são necessários à sua sobrevivência como espécie. Mas se por fora o Homem mudou, por dentro continuou a ser um animal que, embora gregário, nunca deixou de ser egoísta e impiedoso. Evoluiu tanto numas coisas mas continua incapaz de evoluir em outras, pois continua a matar os seus semelhantes só por intolerância de ideias e a abandonar outros à mais impiedosa fome, à mais negra miséria e à escuridão da ignorância.
Enquanto uma minoria, que vive em zonas ricas e onde o progresso tecnológico impera, engorda e prospera à sombra do conforto e da abastança, uma grande maioria tenta diariamente sobreviver, à míngua de tudo, e vai morrendo de fome e de doenças endémicas. Na verdade essa minoria chega a tratar os seus animais como se fossem pessoas ao mesmo tempo que trata outras pessoas, suas irmãs de espécie, pior do que trata os animais mais maltratados.
Até há doenças de ricos e doenças de pobres, pois gastam-se milhões na investigação de algumas doenças (com as quais alguns ganham fortunas incalculáveis é o caso da Gripe H1N1-) enquanto no caso de outras doenças as dos pobres continuam os poucos investigadores que nelas trabalham, a lutar com escassez de fundos e de meios.
E o mais curioso é que a mesma espécie animal que evoluiu para além das suas necessidades de sobrevivência, só para manter o seu estilo de vida supérfulo, está a condenar todo o seu habitat que é também o habitat de muitas outras espécies a uma lenta destruição.
Na verdade o ser humano soube criar Progresso mas só para alguns, contudo só conseguirá verdadeiramente evoluir quando primeiro pensar em dar condições de vida mínimas e condignas aos membros da sua própria espécie. Só assim teremos Desenvolvimento global.

J.M. Cosmelli