Explicação e compreensão - Ciências da Natureza e Ciências Humanas

O século XIX assiste a um despertar e a um desenvolvimento do estudo do homem, da sua história, da sua linguagem e dos seus costumes, equivalente àquele que no século XVII se verificara relativamente ao estudo da natureza. Ou seja: tal como as Ciências da Natureza nascem, na sua cientificidade própria e específica, no século XVII, também as Ciências Humanas, as Ciências Sociais ou Ciências do Espírito nascem efectivamente no século XIX. Não nascem, todavia, pacificamente. Esse nascimento é marcado por um conflito de modelos de inteligibilidade [...].
Neste conflito entre modelos de inteligibilidade, um dos pólos é representado pelo positivismo, que [...] procura, na concretização desse sonho, transpor para as Ciências Humanas o ideal da inteligibilidade em que assenta a cientificidade das Ciências da Natureza. [...]
Ao primado metodológico das Ciências da Natureza sobre as Ciências do Espírito defendido pelo positivismo, vai opor-se um grupo de autores extremamente significativo na segunda metade do século XIX, de que é justo destacar Droysen e Dilthey, que virão a cunhar definitivamente os conceitos de explicação e compreensão e a pugnar tenazmente pela autonomia metodológica das Ciências do Espírito.
[...] É neste quadro que se insere a reformulação do binómio metodológico entre as Ciências da Natureza e as Ciências do Espírito, por Droysen e por Dilthey. O primeiro cunha definitivamente a distinção entre explicar e compreender, como indícios e marcas de dois processos distintos no âmbito do saber: assim, ao método científico físico-matemático corresponderia um conhecimento explicativo e ao método científico histórico corresponderia um conhecimento compreensivo. Dilthey aprofunda esta distinção institucionalizando correlativamente a expressão Ciências do Espírito. Assim, para ele, as manifestações da vida e as objectivações do homem no mundo social e histórico constituem o principal ponto de abordagem das Ciências do Espírito e a via de acesso a elas é a compreensão, a qual definirá a atitude hermenêutica face à história".
in: http://www.esas.pt