Ser ou não ser eis a questão - “To be or not to be, that’s the question"

Eis a questão! Vulgarmente fica-se por "ser ou não ser, eis a questão", porém a expressão mais completa será: “Ser ou não ser, eis a questão: será mais nobre em nosso espírito sofrer pedras e setas com que a Fortuna, enfurecida, nos alveja, ou insurgir-nos contra um mar de provocações e em luta pôr-lhes fim? Morrer... dormir: não mais. Conformar-me ou enfrentar o "destino"?(William Shakespeare)
Pagar o preço da "crise existencial", pagar a factura da escolha,  as consequências da decisão tomada ou deixar-me adormecer e conformar-me com o que a sorte me traz?
Para lá da "dificuldade" da tradução do verbo... Ser enquanto circunstância? Nesta perspectiva, em vez de dizer: “Eu sou professor”, direi “eu encontro-me como professor”, pois estou diante de uma circunstância: no caso, ministro aulas; entretanto, em casa sou irmão, filho, companheiro, etc.. Portanto, estou no papel de professor. O ser é algo mais profundo?
Na escolha defino-me; opto e recuso um mundo de alternativas; trata-se de investir: aqui o “capital” somos nós. Economicamente é uma escolha para responder a necessidades que cresceram em mim; fui económico no cultivo delas? Trabalhei demasiado terreno e agora não tenho como tratar da cultura? Faltam-me recursos? Menos necessidades facilitam a gestão, favorecem o sucesso, favorecem a felicidade. E o que recusei no momento da escolha? Que lugar há para isso? O que recusei só existe na circunstância, e essa flui…
Na escolha o tempo cristaliza-se, transforma-se em mim e preenche-me; quanto às recusas serão forma, o meu contorno, as minhas fronteiras, desenha-as cada um dos “Nãos” que vou dizendo. É interessante pensar que os outros me identificam sobretudo pela forma… é irónico mas também natural.
F.Lopes