A tarefa da desconstrução de um texto.



A tarefa que temos vindo a desenvolver nas últimas aulas é a da desconstrução de textos e, de uma forma geral, tem apresentado algumas dificuldades; assim o que se impõe em primeira instância é perceber a “desmontagem” e "desconstrução" de um texto. Desconstruir um texto é fazer com que as suas palavras-chave, conceitos centrais, subvertam as próprias suposições desse texto, reconstituindo os movimentos possíveis dentro da sua própria linguagem: quebrando os valores de verdade, do significado inequívoco e da presença conceptual, a tarefa a que nos propomos aponta para a possibilidade de escrever não uma representação de qualquer coisa (nem resumo, nem reescrita), mas para a infinitude do quadro onde se insere o próprio “jogo” do texto. Não vamos então à procura do seu sentido, vamos antes seguir os caminhos "dele", transgredindo ao mesmo tempo os seus próprios termos; irá resultar num “desvio”. Todo o signo só significa na medida em que se opõe a outro, um conceito ao seu contrário, por isso uma actividade prática a fazer poderá ser, por exemplo, descobrir o “negativo” do texto, desdizê-lo, negar frase a frase ou até conceito a conceito. Ao terminar o exercício teremos aberto um horizonte de significado plural, normalmente muito interessante. Embora esta técnica aparente simplicidade, a verdade é que desmonta um horizonte de expectativas que cada um de nós possui (também o autor) e é uma característica fundamental de todas as situações interpretativas: normalmente caímos numa espécie de fatalismo, num qualquer ponto de vista que reflecte a visão que temos do mundo - quando interpretamos, possuímos um conjunto de crenças, valores, princípios assimilados e ideias aprendidas que limitam a liberdade do acto de interpretar. Por outras palavras, quando lemos um texto, o nosso horizonte de expectativas actua como a nossa memória, feita de todas as leituras e aquisições culturais realizadas desde sempre. Esta técnica poderá ajudar-nos a ultrapassar esta nossa primeira dificuldade. Poderemos fazer um novo texto no negativo do trabalho ou então, e muitas vezes é preferível, podemos construir um esquema inicial com uma estrutura de conceitos que será espelhada em forma invertida num outro esquema, rasgando o horizonte do texto, ficando ainda em aberto a construção de “pontes” de interpretação entre os dois esquemas.
F. Lopes