De volta à técnica do ensaio filosófico (mais algumas considerações)

Um ensaio filosófico exige a defesa argumentada de uma afirmação. Os ensaios que estamos a fazer devem apresentar um argumento; não se devem limitar à exposição de opiniões próprias ou de outros, mesmo que estes últimos sejam filósofos reconhecidos. É fundamental defender afirmações e apresentar razões para as justificar.
Assim não vamos simplesmente dizer algo como "a minha opinião é que isto é ...", deveremos dizer antes algo como "a nossa opinião é X. Pensamos isto porque...". Da mesma forma, não nos limitaremos a dizer que "Platão afirma que ..."; poderemos complementar criticamente com algo como, "no entanto não é verdade que ... por isto ou ainda aquilo ...". Se concordamos com o autor, vamos reforçar argumentativamente a sua afirmação: "concordamos com o autor por esta e/ou aquela razão".
Um ensaio de filosofia pode ter vários objectivos. Geralmente começamos por apresentar algumas teses ou argumentos para ter em conta, passando de seguida a criticar ou demonstrar que alguns deles não são bons. Podemos também defender o argumento contra uma crítica externa, oferecendo razões para se acreditar na tese. É portanto necessário apresentar explicitamente as razões que sustentam as nossas afirmações, independentemente dos objectivos que tenhamos em mente.
Geralmente sente-se que não há necessidade de muita argumentação quando uma dada afirmação é, para nós, evidente; mas é muito fácil sobrestimar a força da nossa própria posição. Afinal de contas, já a aceitamos. Vamos então presumir que quem nos lê ainda não aceita a nossa posição. Não devemos começar um ensaio com pressupostos que quem não aceita a nossa tese vai com certeza rejeitar. Se queremos ter alguma hipótese de persuadir, temos de partir de afirmações comuns, portanto facilmente aceites.
Um bom ensaio de filosofia defende uma breve ideia apresentando-a com clareza e objectividade e oferecendo boas razões em sua defesa. O objectivo do ensaio é demonstrar que entendemos o problema e somos capazes de pensar criticamente sobre ele. Para que isto aconteça, o ensaio tem de revelar algum pensamento independente: isto não significa que vamos apresentar a nossa própria teoria, ou que tenhamos de dar uma contribuição original para Filosofia. Um ensaio bem escrito é claro e directo, contém respostas ponderadas e críticas aos textos que lemos.
Importante será trabalhar com os nossos próprios argumentos, criticar ou defender algum argumento que encontramos no texto ou nas aulas. Não vamos simplesmente resumir o que os outros disseram. Definitivamente, não vamos resumir!
F.Lopes