O sentido, a necessidade de Deus e a imortalidade

O homem moderno pensou que quando se tivesse visto livre de Deus, se teria liberto a si mesmo de tudo o que o reprimia e asfixiava. Em vez disso, descobriu que ao matar Deus, também se matou a si mesmo.
Pois se Deus não existe, então a vida do homem torna-se absurda.
Se Deus não existe, então tanto o homem como o universo estão inevitavelmente condenados à morte. O homem, como todos os organismos biológicos, tem de morrer. Sem qualquer esperança de imortalidade, a vida do homem conduz apenas à sepultura. A sua vida é apenas uma fagulha na escuridão infinita, uma fagulha que aparece, tremeluz e morre para sempre. Comparada com o tempo infinito, o tempo de vida humana é apenas um momento infinitesimal; e mesmo assim esta é toda a vida que alguma vez conheceremos. Portanto, teremos todos de estar cara a cara com aquilo a que o teólogo Paul Tillich chamou «a ameaça da não-existência.» Pois embora eu saiba agora que existo, que estou vivo, também sei que algum dia já não existirei, que já não irei ser, que irei morrer. Este pensamento é desconcertante e ameaçador: pensar que a pessoa a que chamo «eu mesmo» deixará de existir, que não existirei mais!
Lembro-me bastante bem da primeira vez que o meu pai me disse que um dia eu iria morrer. De alguma forma enquanto criança o pensamento nunca me tinha ocorrido. Quando ele me disse, assolou-me uma tristeza insuportável. E embora ele tentasse várias vezes assegurar-me de que ainda faltava muito tempo isso não parecia interessar. O facto inegável era que mais cedo ou mais tarde eu morreria e não existiria mais, e esse pensamento devastou-me. Com o tempo, aprendi, como todos nós, a aceitar simplesmente o facto. Todos nós aprendemos a viver com o inevitável. Mas a percepção de criança continua a ser verdadeira. Como o existencialista francês, Jean-Paul Sartre disse, várias horas ou vários anos não faz diferença nenhuma, uma vez que se tenha perdido a eternidade.
Quer isso ocorra mais cedo ou mais tarde, a perspectiva da morte e a ameaça da não-existência é um choque terrível. Mas encontrei uma vez um estudante que não sentia esta ameaça. Ele disse que tinha sido criado numa quinta e estava habituado a ver os animais nascerem e morrerem. Para ele, a morte era simplesmente uma coisa natural — uma parte da vida, por assim dizer. Surpreendeu-me quão diferentes eram as nossas duas perspectivas da morte e achei difícil compreender por que razão ele não sentia a ameaça da não-existência. Penso que encontrei a resposta anos mais tarde ao ler Sartre. Sartre observou que a morte não é ameaçadora conquanto a encaremos como a morte de outros, do ponto de vista de uma terceira pessoa, por assim dizer. É apenas quando a interiorizamos e a olhamos de uma perspectiva de primeira pessoa — «a minha morte: Eu vou morrer» — que a ameaça da não existência se torna real. Como Sartre chamou a atenção, muitas pessoas a meio da vida nunca assumem esta perspectiva de primeira pessoa; podemos até olhar para a nossa própria morte de um ponto de vista de terceira pessoa, como se fosse a morte de outra pessoa ou mesmo de um animal, como fazia o meu amigo. Mas o verdadeiro significado existencial de a minha morte pode apenas ser apreciado de uma perspectiva de primeira pessoa, à medida que compreendo que vou morrer e deixar de existir para sempre. A minha vida é apenas uma passagem momentânea do esquecimento para o esquecimento.
O universo enfrenta igualmente a morte. Os cientistas dizem-nos que o universo está em expansão e que todas as coisas nele se afastam cada vez mais umas das outras. À medida que isso acontece, o universo torna-se cada vez mais e mais frio e a sua energia esgota-se. Por fim, todas as estrelas se extinguirão e toda a matéria colapsará em estrelas mortas e em buracos negros. Não existirá qualquer luz; não existirá qualquer calor; não existirá qualquer vida; apenas os cadáveres de estrelas e galáxias mortas, expandindo-se para sempre na escuridão infinita e os recessos frios do espaço — um universo em ruínas. O universo inteiro dirige-se irreversivelmente para o seu túmulo. Por conseguinte, não é apenas a vida de cada pessoa individual que está perdida; é a totalidade da raça humana que está perdida. O universo precipita-se para a sua extinção inevitável — a morte está escrita em toda a sua estrutura. Não há fuga. Não há esperança.
Se Deus não existe, então o homem e o universo estão perdidos. Como prisioneiros condenados à morte, esperamos a nossa execução inevitável. Não há Deus e não há imortalidade. Qual é a consequência disto? Segue-se que a própria vida é absurda. Segue-se que a vida que temos não tem propósito, valor ou significado últimos.
Craig, William Lane. “The Absurdity of Life Without God” in Klemke, E. D. The Meaning of Life, pp.40-42