Razão e Embriaguez - por Maria Fernanda Romero Rodrigues (11º ano)

Embriaguez. Palavra que "nos diz tanto e ao mesmo tempo tão pouco". Palavra vista como um escape para uns e como um tabu para outros.
A verdade é que esta é mal vista por alguns devido às consequências: decadência do pensamento, destruição das entranhas provocando a ruína de algumas vidas, contudo, serve como um aviso para outras. É, imediatamente, associada a pessoas sem projectos de vida, pessoas indecentes, pessoas problemáticas, ou seja, pessoas alcoólicas.
Porém, afirmo convictamente que a embriaguez é necessária na vida do Homem, não pela necessidade de álcool no sangue, mas pelos efeitos que esta provoca, assumindo-se como o adormecer do raciocínio e dos sentidos.
Esta tranquilidade da alma e excitação do corpo dissipa as preocupações, cura a tristeza, liberta a alma da escravidão das inquietações e faz-nos sofrer de amnésia momentânea. Digamos que é um pretexto para atingir um estado de ignorância, no qual a mente se encontra em total repouso (quase uma epoché).
Agora, assumindo a embriaguez como a luxúria, chegamos à conclusão que ambas provocam os mesmos efeitos, ambas nos sobem à cabeça evaporando-nos o juízo da mente. Decerto, a embriaguez eleva a loucura que há em nós desde o fundo da nossa alma à superfície da nossa pele, faz-nos sentir a liberdade que tanto nos é tirada devido aos compromissos da vida. (Contudo, é sempre boa e salutar a moderação.)
Mas será esta a única embriaguez que nos livra das preocupações?
Será necessário alcoolizar-nos cada vez que queiramos atingir em estado de prazer isento de inquietações? De facto, o álcool não é a única solução! O Homem não necessita de “enfrascar-se” cada vez que se queira livrar dos pensamentos que o atormentam.
Pode, simplesmente, refugiar-se naquilo que mais aprecia levando-o a distrair-se e, por conseguinte, ficando imune às preocupações que lhe devoram a mente. Por exemplo, “embriagar-se de futebol”: visto que a embriaguez é o adormecer do raciocínio, enquanto vê o jogo concentra-se unicamente no decorrer deste, livrando-se momentaneamente das inquietações anteriores ao jogo de futebol. Como tal, em parte a “embriaguez de futebol” tem os mesmo efeitos que a “embriaguez de álcool”.
Como é evidente, após qualquer tipo de embriaguez regressa a razão, a chamada ressaca. O sentimento de culpa instala-se, as preocupações vêm a dobrar, a tristeza é mais penetrante; o que na “embriaguez de álcool” é substituído por dores de cabeça, mal-estar físico, etc.
Por vezes, sob o efeito da embriaguez, vários erros podem ser cometidos: uma pessoa pode ser morta, outra pode tornar-se uma nova portadora de uma doença fatal e outra pode, simplesmente, carregar no ventre uma criatura inocente.
A verdade é que mesmo sabendo as consequências da embriaguez, o Homem continua a elegê-la como o seu principal refúgio. O Homem sujeita-se a isso e muito mais para sentir o prazer de ter a mente livre da razão, a mente em branco…
A embriaguez suaviza o pensamento, faz pairar a alma e levitar o corpo.

Maria Fernanda Romero Rodrigues