Filosofia e actualidade

As grandes questões metafísicas como o ser e o não ser, a existência de Deus e de um princípio fundamental de onde tudo derive, estão imbuídas, pela sua natureza intrínseca, de improficuidade, ou seja, não são passíveis de solução no âmbito dos preceitos da razão e do raciocínio lógico. Poder-se-á afirmar que a enunciação das questões é por si motivo de regozijo para os metafísicos, mas convenhamos que as dúvidas só são fermento de saber quando esclarecidas.
A natureza transcendente das perguntas metafísicas parecem só deixar espaço para elocuções filosóficas e retóricas cujo conteúdo se fecha em si próprio e impede outras saídas para o conhecimento. Tudo indica caber à ciência a responsabilidade pelo progresso da humanidade, a melhoria das condições de vida do ser humano, a solução para as questões do factor primordial do universo e da fronteira entre a vida e a morte.
Pode caber à filosofia a definição de fronteiras mais nítidas entre a moral e os códigos de valores de forma a definir o bem e o mal, excluindo formulações absolutas pelas quais a metafísica se ensimesmou.
O progresso da ciência exige o apuramento de questões éticas fundamentais para a definição dos fins e objectivos científicos, concordantes com o humanismo e o respeito pela pessoa em todas as suas dimensões, evitando anomalias geradas por um eventual desnível entre a evolução do conhecimento científico e as mentalidades. Poderá querer isto dizer que a filosofia e a metafísica deverão abandonar a fenomenologia e dedicar-se sobretudo a problemas de filosofia prática, ética e moral? Ou seja, a inocuidade das questões metafísicas inviabilizam a própria essência da filosofia e a sua razão de ser? Questão de cariz estritamente filosófico e a dever ser seriamente discutida por quem de direito, mas sem dúvida parece ser óbvio estar a filosofia em crise existencial, a exigir novos caminhos e, sobretudo, libertar-se de preconceitos enraizados na sua própria história, evitando a prolixidade de conceitos como alma e espírito, e assegurando todo um conjunto de objectivos e problemas propiciadores de sistemas seguros e esclarecedores, reconfigurando a filosofia como saber mais próximo da realidade e das pessoas, em vez de insistir nas retóricas estéreis próprias do discurso académico. A bem de uma humanidade a braços com perguntas difíceis, concretamente a sua relação com uma ciência cada vez mais imprevisível e que de um momento para o outro pode perigar a sobrevivência da espécie.