Morreu José Saramago

"A morte voltou para a cama, abraçou-se ao homem e, sem compreender o que lhe estava a suceder, ela que nunca dormia, sentiu que o sono lhe fazia descair suavemente as pálpebras."
José Saramago, As Intermitências da Morte, Ed. Caminho.

 
 
 
 
Agora, Saramago já sabe se estava enganado ou, se não sabe, tinha razão. Consumatum est.
Hoje não se falará de Portugal por causa de um CR7 ou por causa de um buraco de euros e de miséria. É preferível para o país de Camões. Saramago talvez seja dos últimos intelectuais verdadeiramente "comprometidos" que tivemos. Personalidade talhada. Cínico, cítrico e às vezes doce. Muitas vezes pensei em desacordo com ele: defendia uma ideia de sociedade que não foi inocente, não foi justa, foi muitas vezes violenta e também, como outras, fez massacres. Como actor na sociedade fez asneiras e contribuiu para outras, como todos. Como todos também fez coisas certas e até belas. Como escritor nem sempre terá sido excelente (não sou ninguém para afirmar isto), tal como ninguém é sempre. Muitos livros dele não li e dos poucos que li nem sempre gostei; a muitas ideias achei interesse. Não seria um génio. Era um escritor de "enxada". Haverá muitos que lamentam o seu desaparecimento.
Eu digo, foi bom teres existido.
F.Lopes