Uma questão de Tempo (o modelo do relógio) - por Liliana Ramalho (11ºano)

A diversidade no Mundo aumenta quando há um nascimento. Surge uma nova pessoa, diferente dos biliões que já existem, com novas ideias, outros pontos de vista e diferentes atitudes. Todos nascemos e a partir desse momento começamos a conhecer e a explorar o que nos rodeia. As crianças são o exemplo perfeito de como a nossa vida devia ser guiada pelo espanto ao longo dos dias.
Um dia corre atrás do outro, mas todos são diferentes e tão curtos que para os usufruirmos devíamos vivê-los como se fossem os últimos, sem deixar nada por fazer ou por dizer, pois tudo tem o seu momento para acontecer.
Mas, se o Homem nasce com esta atitude aberta perante a novidade, como é que com o passar dos anos vai caindo numa "nostalgia" que o preenche mais que o próprio dia?
A vida da sociedade no decorrer deste século vai-se moldando a um relógio.
Segundo este modelo, a pessoa nasce e o tempo começa a contar. Nos primeiros anos, quando se é criança/jovem a vida tem significado. Nesta fase as pessoas aproveitam cada dia de forma intensa, dando grande importância aos pequenos pormenores. Com esta maneira de viver, as crianças criam uma vida que assenta em alicerces sólidos, pois existe um sentido. É também nesta altura que a atitude crítica e curiosa está bem evidente: “a fase dos porquês”. Desta forma as crianças vão demonstrando aos pais que se tornaram em “espécies" de Homem com a atitude certa de viver cada dia. Mas lentamente os jovens vão caindo numa melancolia para a qual foram empurrados, sobre a pressão da sociedade e da cultura.
Desde cedo as crianças são entregues em infantários ao cuidado de profissionais que vêem o seu emprego com o intuito no salário ao fim do mês. Essas instituições são quase todas incubadoras de falta de afectos e atenção de que as crianças bem precisam. Os pais mostram aos filhos que a vida para ser bem aproveitada devia ser preenchida por imensas actividades, de maneira a que os filhos cheguem à noite sem vontade para interrogar os pais e portanto ficam sem vontade de os conhecer, surgindo um alheamento da história e vivências da família.
Quando as crianças vão para a escola, são absorvidas pela ambição de obter bons resultados, não só para satisfazer os pais como também para se sentirem valorizadas pelos os seus colegas, desprezando o que realmente as preenchia de forma mais duradoura e proveitosa, como um passeio numa tarde, uma conversa com um amigo ou mesmo um momento de reflexão.
Mas como o tempo não pára, acabamos de entrar na posição oposta ao nosso nascimento, que é o lugar da vida adulta. Este período é o auge do stress, do consumismo, da ideia de superioridade e do desejo económico. Logo, desde o nascimento até à fase adulta o sentido é crescente na desvalorização da vida. As pessoas preenchem os seus dias de uma forma superficial e desprovida de sentido, caindo numa melancolia entristecedora. Tornam-se, assim, fragmentos de Homem. É uma altura da vida em que o Homem se centraliza no futuro, desprezando o presente. Mas esquece-se que o presente já foi futuro e que se tornará brevemente passado.
Como é que é possível que tudo isto aconteça de uma forma despercebida?
A sociedade habituou-se a ver o mundo, em vez de o observar/analisar. Quando uma pessoa vê uma coisa, limita-se a olhar de uma forma passiva. No entanto, quando se analisa algo, está bem assente o espírito crítico e há uma reflexão. Com esta atitude tudo passa a fazer mais sentido. A sociedade deste século baseia-se em ver o que a rodeia como se de um filme se tratasse, tomando uma posição passiva. Mas, quando o Homem está a mais que meio da sua vida, os anos começam a pesar e as pernas custam a andar, ganha-se tempo para admirar o que se passa à nossa volta. Nesta fase, segundo o modelo do relógio, as pessoas encontram-se na mesma direcção que as crianças. Esta talvez seja a explicação para o fenómeno dos avós compreenderem melhor os netos do que compreenderam os filhos, sendo a relação de avós e netos mais emotiva e próxima.
Curiosamente, quando uma pessoa está a morrer fica no mesmo sítio onde nasceu, ou seja, não sabe de onde veio, nem para onde vai.
É triste que ao longo dos anos uma pessoa tenha usufruído a vida em pequenos momentos que são preenchidos por adornos que nos distraem e nos entristecem. Tudo isto por se querer ser aquilo que não se é.
Tenho pena que quando se chega ao fim da vida, se queira viver a vida, quando se teve uma vida inteira para viver.

Liliana Ramalho - 11º ano