Não tenho mais palavras!
Gastei-as a negar-te.Só a negar-te eu pude combater
O terror de te ver em toda a parte.
Fosse qual fosse o chão da caminhada,
Era certa a meu lado
A divina presença impertinente
Do teu vulto calado e paciente.
E lutei
Como luta um solitário
Quando alguém lhe perturba a solidão:
Fechado num ouriço de recusas
Soltei a voz, arma que tu não usas,
Sempre silencioso(a) na agressão.
Mas o tempo moeu na sua mó
O joio amargo do que te dizia.
Agora somos dois obstinados,
Mudos e malogrados,
Que apenas vão a par na teimosia.
Miguel Torga, “Câmara Ardente”