Filosofia: métodos e objecto

"Tudo parece indicar que a filosofia não pode ser identificada com as ciências particulares nem ser restrita a um campo ou objecto único. Ela é, num certo sentido, uma ciência universal; o seu campo de pesquisa não é, como nas outras ciências, restrito a alguma coisa limitada e determinada.
Se assim é, pode acontecer, e de facto acontece, que a filosofia se ocupe dos mesmos objectos que as outras ciências. Em que, então, a filosofia se distingue da ciência de cujo objecto se ocupa? A resposta é que ela se distingue tanto pelo método de investigação como pelo ponto de vista em que se coloca. Pelo método - porque o filósofo não está obrigado a restringir-se a qualquer dos métodos do conhecimento, que são muitos.(...)
Além disto, a filosofia distingue-se das outras ciências pelo ponto de vista em que se coloca. Quando considera um objecto, ela encara-o, por assim dizer, sob o prisma dos limites, dos aspectos fundamentais. Nesse sentido a filosofia é a ciência dos fundamentos da realidade. Lá onde as outras ciências param, onde, sem mais indagar, aceitam os pressupostos, aí entra o filósofo e começa a investigar. As ciências conhecem - mas o filósofo pergunta o que é o conhecimento; as outras ciências estabelecem leis - ela põe a questão do que seja uma lei; o homem comum e o político falam do fim e da utilidade - ofilósofo pergunta o que se deve entender por fim e utilidade.
Já se vê que a filosofia é uma ciência radical - no sentido em que ela vai às raízes das questões muito mais profundamente do que qualquer outra ciência; lá onde as outras se dão por satisfeitas,ela continua a indagar e a perscrutar."


J.M.Bochensky, Directrizes do Pensamento Filosófico