A crise é, essencialmente, a nossa condição humana. Talvez nunca tenhamos existido sem estarmos em contexto de crise. Actualmente dizem-nos que ela é enorme: são as crises pessoais, quer do "eu" quer do "nós".
Crise - ( do grego Χρύσης), significa etimologicamente "momento decisivo", "emergência", "risco" e/ou "oportunidade". Estamos mais "expostos" à crise sempre que escolhemos livremente: acumulamos mais dúvidas que certezas e a capacidade de optar acaba por ser o acto que nos define enquanto humanos. É pois, a liberdade, um dos grandes valores "formatadores" da nossa natureza e por ela assumimos a nossa condição de "risco", de crise.Toda a história é um suceder de heróis mortos, de cidades abandonadas, de plenos que se tornaram vazios: são as condições do crescimento, é o "movimento do respirar" que nos mantém "vivos", é o fim das metas que, com o tempo, descobrimos afinal serem só princípios. A nossa "casa" é o universo infinito das possibilidades. E se perdemos por alguns instantes o recorte do horizonte que são os valores, quando "acordamos" para o mundo da acção em que vivemos, temos medo...
Na condição de ocidentais, e como refere Eduardo Lourenço, "a nossa matriz de valores é por um lado Grega e por outro Judaico-cristã". Isso tem sérias consequências: não é fácil conviver com ambas, e nós crescemos no meio delas! A crise é, ela mesma, a exigência e a oportunidade de nos reencontrarmos.
F. Lopes