Mito e Religião (Um apontamento)

Uma forma interessante de abordar o estudo da temática mitológica no contexto religioso é tecer uma lógica interna que ajudará à sua descodificação no horizonte da "circunstância real". Existe dificuldade nesta "ponte", já que aparentemente está ausente a coerência entre a narrativa e a realidade que o mito quer "imitar", repetir.
Há alguns conceitos-chave incontornáveis: O Tempo cíclico ou Eterno Retorno, o Espaço Sagrado, que se desvanece a partir de um eixo central, a Causalidade monista, o Rito, como "mito em acção" e a Linguagem Sincrética onde se expõe e mescla a preocupação do conhecimento do Sagrado e o domínio da realidade.
Para o homem mítico, costuma-se dizer, "o Mito não é um Mito", será antes uma espécie de analogia que representa a consciência que ele tem do real, funde-se nele próprio enquanto "participante". Além disto desempenha um papel regulador, quase normativo, da vida na sociedade: explica a vida, resolve os problemas centrais e permite ao homem o alcance garantido da repetição dos acontecimentos que dão sentido à sua vida. O Sincretismo entre o material da percepção sensível e a representação que é o mito, não tem falta de lógica e rigor mas revela uma visão completamente permeável aos modelos antropocêntricos.
O simbólico enraizado no sensível que existe no mito, passou hoje a abstração e universalidade.
 
F.Lopes