Ética, corpo e linguagem

 É pela corporeidade que a relação com o Outro se institui. Como diria E. Lévinas, o rosto do Outro apela ao meu Eu, à minha identidade práxico-ética; apela, e até poderemos dizer que exige, um compromisso de mútuo reconhecimento. Alguns dos temas que iremos tratar em breve requerem o cuidado de ter bem nítida a noção e o lugar do corpo, a relação que estabelecemos com ele (já por si linguagem) enquanto objecto de referência verbal e a forma como o (nos) olhamos e o (nos) vemos como um todo.
Este trecho de José Gil é um precioso contributo para este objectivo.
"Qualquer discurso sobre o corpo parece ter de enfrentar uma resistência. Ela provém certamente da própria natureza da linguagem: como para a morte ou para o tempo, a linguagem esquiva-se à intenção de definir: cada definição permanece um ponto de vista parcial, determinado por um domínio epistemológico ou cultural particular.(...) Parece no entanto que a verdadeira dificuldade se encontra noutro lado. Manifesta-se na profusão, não das significações do corpo, mas do emprego metafórico deste termo. Ele está em todo o lado, tudo forma um corpo (...). A esta docilidade da linguagem equivale uma violência real exercida sobre o corpo: quanto mais sobre ele se fala, menos ele existe por si próprio." José Gil, Metamorfoses do Corpo, A Regra do Jogo, 1980, p. 7
F.Lopes