Tecnologia e responsabilidade ética - Carl Mitcham

"Uma das preocupações mais frequentes em relação a determinadas tecnologias é o perigo que representam para a responsabilidade humana.
A dependência dos computadores, por exemplo, nos processos de diagnóstico médico ou nos sistemas estratégicos de defesa antimíssil opera uma transferência da responsabilidade, em termos práticos, das pessoas para a programação informática. Mas os mesmos sistemas informáticos que assumem a responsabilidade prática pelo diagnóstico clínico ou pelo sistema de defesa remetem para o exercício de um ideal de responsabilidade superior de quem os concebe e utiliza. É precisamente por a tecnologia exigir tanta responsabilidade a nível ideal que os observadores são tão sensíveis à questão na sua vertente prática. Não é ponto assente, por exemplo, que os computadores tenham de alguma forma assumido responsabilidades que anteriormente pertenciam aos humanos. Poderiam os médicos há dois séculos ser responsáveis pelo diagnóstico e tratamento da miríade de doenças obscuras pelos quais agora têm de responder? Parece mais provável que as novas tecnologias tornem possível a atribuição de determinadas responsabilidades nas quais desempenhem também um papel.
Mas isto coloca-nos perante a seguinte questão: serão estas novas responsabilidades razoáveis? A sabedoria tradicional diz-nos que não devemos assumir nem depositar em outrem demasiada responsabilidade. Fazê-lo é um convite ao fracasso ou mesmo ao desastre. Embora as fronteiras exactas raramente sejam visíveis, uma vez deslocadas, são de difícil reposição.
Tendo em conta este princípio prudencial, devemos então perguntar: será que o princípio da responsabilidade e todos aqueles que são chamados a estar à sua altura podem suportar realmente o fardo acrescido que a ciência e a tecnologia contemporâneas depositam sobre eles?"
Carl Mitcham in www.scielo.oces.mctes.pt