
O tradicional conceito saussuriano do elo de ligação entre significado e significante como facto que assegura a unidade do signo perde para Derrida a sua legitimidade enquanto dado adquirido. Derrida mostra que a teoria da diferença em Saussure — na língua só existem diferenças: o signo é desprovido de conteúdo, isto é, só existe enquanto signo porque se diferencia de outros signos contíguos no interior de um paradigma — encerra em si mesma uma crítica vigorosa do logocentrismo ou metafísica da presença. Derrida considera que o signo é sempre o suplemento de si mesmo. Uma oposição fora/dentro (escrita/discurso) tem que introduzir um terceiro elemento (o suplemento) para que possa produzir um sentido daquilo que verdadeiramente o suplemento difere (presença). Contudo, o suplemento não é de facto um terceiro elemento já que participa em e transgride ambos os lados da “oposição”. Esta lógica da suplementaridade, a que também se chama différance, é o traço particular que Derrida isola na escrita. O resultado imediato da sua acção é o desfazimento da clausura em que se encontram as oposições logocêntricas dos textos, libertando unidades verbais “falsas” a que Derrida chama brisures ou “palavras-charneira”. O seu efeito é o de deitar abaixo aquelas oposições que estamos habituados a produzir e que asseguram a sobrevivência da metafísica no nosso pensamento: matéria/espírito, sujeito/objecto, significado/significante, máscara/verdade, alma/corpo, texto/significado, interior/exterior, representação/presença, aparência/essência, etc. Desconstruir um texto é então fazer com que as palavras-charneira subvertam as próprias suposições desse texto reconstituindo os movimentos paradoxais dentro da sua própria linguagem. Derrida fez repensar a forma como a linguagem opera. Desconjuntando os valores de verdade, significado inequívoco e presença, a desconstrução aponta para a possibilidade de escrever não mais como representação de qualquer coisa, mas como a infinitude do seu próprio “jogo”. Desconstruir um texto não é procurar o seu sentido, mas seguir os trilhos em que a escrita ao mesmo tempo se estabelece e transgride os seus próprios termos, produzindo então um desvio [dérive] assemântico de différance. Todo o signo só significa na medida em que se opõe a outro signo, por isso se pode dizer que é essa condição da linguagem que constantemente diferencia e adia os seus componentes que concede significância ao signo. Não sentidos finais, não há qualquer possibilidade de determinação do sentido de um texto porque todo o texto está sujeito ao jogo da différance.
Carlos Ceia, www.edtl.com.pt