Abertos os arquivos secretos do Vaticano-Novidades no processo de Galileu Galilei


"Roma: Mostra sobre Arquivo Secreto do Vaticano apresenta ficheiros inéditos da II Guerra Mundial Processo de Galileu também está incluído em exposição multimédia"
"O Vaticano apresentou hoje, em conferência de imprensa, a mostra multimédia «'Lux in Arcana' - O Arquivo Secreto do Vaticano revela-se», na qual são apresentados ficheiros inéditos da II Guerra Mundial.
D. Sergio Pagano, prefeito do Arquivo, revelou que a exposição, a abrir ao público a partir de Fevereiro de 2012, inclui documento do chamado "período fechado", altura em que não estão à disposição de nenhum investigador.
Este responsável explicou, no entanto, que os documentos do pontificado de Pio XII não serão "revelações", mas uma "memória", sobretudo fotográfica, das vítimas da guerra (1939-1945) e, possivelmente, dos campos de concentração do regime nazi.
No Capitólio, edifício que alberga as autoridades municipais de Roma, vai estar também exposto o códice do processo (1616-1633) do físico italiano Galileu Galilei.
Entre as 100 obras escolhidas encontram-se ainda a carta ao parlamento inglês, de Clemente VII, sobre o casamento do rei Henrique VIII (1530) e o 'Dictatus papae' de Gregorio VII (1073-1085), que estabelecia a primazia do poder do Papa sobre o poder político, um dos documentos mais antigos da mostra.
O cardeal Raffaele Farina, bibliotecário do Vaticano, sublinhou que "documento pontifícios muito antigos e valiosos, bem como importantes documentos da vida da Igreja no mundo sairão pela primeira vez" do pequeno Estado. O arquivo tem um site próprio, www.archiviosegretovaticano.va, no qual é possível encontrar parte do espólio com mais de mil anos. Ao longo de 85 quilómetros de estantes, distribuem-se mais de 630 fundos de arquivos diferentes.
O arquivo, nos moldes em que existe, nasceu por iniciativa de Paulo V, por volta de 1610, se bem que a sua história recue nos séculos, dado ter nascido, desde cedo, a tradição de os Papas guardarem a documentação que se referia ao exercício da sua própria actividade.
O documento mais antigo conservado no Vaticano é o famoso 'Liber Diurnus Romanorum Pontificum', livro de fórmulas da chancelaria pontifícia do século VIII."

Portugal no Arquivo Secreto do Vaticano
Três mil páginas desvendam investigação referente à expansão portuguesa no Brasil, Oriente, costa de África e ilhas atlânticas
D.R. | Capas dos três volumes Lisboa, 05 jul 2011 (Ecclesia) - O historiador José Eduardo Franco, coordenador da obra 'Arquivo Secreto do Vaticano - Expansão Portuguesa", afirmou à ECCLESIA que os três volumes da investigação que se estende até ao século XX revelam a "realidade nua e crua da Igreja".
"Este arquivos são a expressão da realidade humana, que também é transversal à Igreja", refere o investigador, acrescentando que os documentos desvendam "conflitos e sucessos, inveja e amor, ódio e guerra, vidas exemplares e vidas pouco exemplares".
O estudo, que se baseou num trabalho desenvolvido por várias equipas durante 15 anos em Portugal e no fundo da Nunciatura de Lisboa no Vaticano, mostra uma "realidade íntima, e também secreta, do governo e da administração" eclesiais.
Os três tomos, correspondentes ao Brasil, Oriente, costa ocidental de África e ilhas atlânticas, abordam o "processo de globalização do cristianismo e da Igreja Católica nas suas imbricações com as diferentes culturas e o Estado", descreve o especialista madeirense.
O carácter expansionista da Igreja "foi casado, em determinados momentos, com o ideário de alguns Estados, nomeadamente das coroas ibéricas, no período da expansão portuguesa", explica José Eduardo Franco. Registaram-se também períodos de "tensão", nomeadamente durante o governo do Marquês de Pombal (séc. XVIII) e no século seguinte, com o confronto entre poderes e ideologias defendidas pelo trono e pelo altar.
O coordenador está convencido de que o estudo é "um serviço à transparência da Igreja" e às suas relações com o Estado, já que, como o arquivo manifesta, "a política está promiscuamente presente" na atividade eclesial.
A obra com cerca de três mil páginas e quase 14 mil documentos, editada pela Esfera do Caos, patenteia também a importância precursora de Portugal e Espanha na aproximação das culturas.
"A realidade da globalização em que vivemos deveu-se muito à existência de um ideário universalista que envolveu os povos ibéricos", permitindo "quebrar as fronteiras de um mundo compartimentado e que não dialogava entre si", considera José Eduardo Franco.
A difusão do cristianismo também se integrou neste dinamismo, por vezes marcado por erros: "O desejo de uniformização, em que muitas vezes a Igreja Católica se identificou com a Europa no processo de domínio do mundo, foi a parte menos positiva" da evangelização, refere o historiador.
Os equívocos não foram em vão, já que a Igreja, segundo José Eduardo Franco, soube aprender com o passado, adoptando a "inculturação" como "método de evangelização" que "respeita" e "integra" os valores dos povos onde se insere.
A retrospectiva permite também uma análise mais enriquecida da realidade: "Podemos perceber melhor a dinâmica em curso no presente", considera o investigador, salientando que "a informação é um dos capitais decisivos do processo de construção da Igreja".
O investigador diz que "o Arquivo Secreto do Vaticano tem sido envolvido numa aura de mistério", em parte devido à "publicação de muita literatura de ficção", mas refere que "de secreto só tem o nome porque está acessível aos investigadores de todo o mundo".
"Temos no Arquivo do Vaticano uma espécie de 'ADN' da história mundial, que não encontramos noutro lado", assinala".
in Agência "Ecclesia" / 5 Jul 2011