Apologia da preguiça (argumentação)

«Ao tornar-nos disponíveis, a preguiça, limpa-nos do lixo, do trabalho inútil e das ideias negativas».
(Fernando Dacosta, JL,Out. 1987)
"... não será «um costume da nossa época» condenar a tão purificadora preguiça? Quem nunca foi erradamente acusado de sofrer duma «preguicite aguda» (única doença que se conhece totalmente benigna)?...
... o «amigo» dicionário chega ao ponto de identificar preguiça com malandrice. Sem comentários!...
... não se deve ver na preguiça um estado de hibernação mental ( no entanto há em muitos praticantes desta modalidade algo que eu não considero preguiça mas sim uma grande falta de interesse pela vida, altamente prejudicial), deve-se ver, sim, uma hibernação para aquilo que nos dá prazer, e que, ao contrário do que se costuma pensar, pode ter uma grande importância para nós, logicamente,...
... será que ir ao café, ouvir musica, passear e mesmo não fazer nada são prazeres importantes? É óbvio que são, pois contribuem para o nosso equilíbrio pessoal e mesmo social...
... é necessário descobrir as nossas capacidades e talentos que nos dêem realmente prazer, para que possamos ser ao mesmo tempo«preguiçosos» e úteis, a nós e aos outros...
... pergunto: não estaria Camões quando escreveu os «Lusíadas», ou Eça de Queirós quando escreveu «Os Maias», ou Vivaldi quando escreveu as «Quatro Estações», ... Pasteur quando inventou a vacina para a raiva, repito, não estariam todos eles mergulhados num produtivo estado de preguiça que os libertou das «chatas» obrigações a que todos estamos sujeitos («o lixo»)? Pensem nisso...
... aprendam a ser bons «preguiçosos»..."

(in Jornal do Fundão, Luís Pedro de Almeida em 27-5-88)