História da Lógica

No nosso quotidiano fazemos uso da expressão ‘é lógico’ quando acreditamos que um raciocínio ou uma observação qualquer faz sentido ou quando corresponde à realidade ou ainda, quando apresenta coerência.
Desta forma, para o senso comum, a lógica seria um estudo da correspondência entre o discurso e a realidade. Porém, em sentido mais estrito, aquela ‘arte’ surgida, segundo uma concepção clássica, com os trabalhos do filósofo grego Aristóteles (384-322 a.C.) de Estagira, apresenta-se como uma metodologia de análise e construção de raciocínios e argumentos em âmbito formal.
Na forma como é conhecida no Ocidente, tem origem na Grécia.
Mais tarde, foram reunidos os trabalhos na obra denominada Organon, onde encontramos no capítulo Analytica Priora a parte essencial da Lógica. Para Aristóteles, o raciocínio (dedutivo) reduz-se essencialmente ao tipo determinado que se denomina silogismo.
Na sequência de descobertas e reflexões de pensadores anteriores, donde sobressaem Parménides e Zenão de Eleia, os sofistas, Sócrates e Platão, este último mestre de Aristóteles. Depois, encontramos os pensadores medievais, entre os quais o português Pedro Hispano (1220-1227), que lhe irão dar o seu aspecto quase definitivo, ou pelo menos, o mais próximo do que conhecemos hoje como a ciência das ideias.
Ainda na Antiguidade grega, temos a Lógica da escola dos estóicos e megáricos (Euclides de Megara – 400 a.C.). Esta lógica apresenta-se de modo diferente da aristotélica, pois, liga-se ao Cálculo dos Predicados, ao passo que a primeira refere-se ao Cálculo Proposicional. Pertence a essa escola, Zenão (336-204 a.C.) que fundou o estoicismo. Crisipo foi o lógico mais fértil dessa época.
Observa-se que durante os primeiros tempos, a lógica apresentada pelos filósofos era em linguagem natural. Ela é também uma disciplina essencialmente filosófica, pois os seus conteúdos estão intimamente interligados com os de outras disciplinas filosóficas fundamentais, como sejam a ontologia, a metafísica e a teoria do conhecimento ou gnoseologia. Além disso, os conceitos apresentados por esta ciência foram muito válidos no desenvolvimento dos computadores.
A Lógica moderna iniciou-se com a obra Investigation of the Laws of Thougt, de George Boole (1815-1864). Com isto deu novos rumos à Álgebra da Lógica. Paralelamente, Morgan (1806-1871) desenvolveu, também, a Álgebra da Lógica. As ideias de Boole e De Morgan foram objectos de publicações importantes de Chales Peirce (1839-1914). Surge, então, Frege (1848-1925), que pela primeira vez desenvolve axiomaticamente o Cálculo Sentencial, usando “negação” e “implicação” com conceitos primitivos, seis axiomas e regras de modus ponens e de substituição. Muitas ideias de Frege, tratadas de maneira menos sistemática, encontram-se em Peirce.
De seguida surge Bertrand Russel e Witehead (1861-1947), com uma das mais importantes obras do século XX, Principia Mathematica, em três volumes. Entre o grande número de lógicos actuais, mencionamos, Kurt Godel e Alfred Tarski. A Gödel deve-se a primeira demonstração de completividade da Lógica elementar e da incompletividade de sistemas mais complexos, como a impossibilidade da existência de um sistema axiomático completo e consistente para a Aritmética usual. A Tarski deve-se muito no que respeita ao progresso dos estudos lógicos. Dentre as suas contribuições, destaca-se, a definição semântica de verdade, que tem aplicações em numerosos campos da Matemática, com repercussões na Filosofia. É difícil dar hoje uma ideia da ampliação do campo de estudos da lógica, quanto às pesquisas e possibilidades, mas o que é certo é que um conhecimento preliminar ainda que intuitivo é necessário em quase todos os ramos de conhecimento.
O grande desenvolvimento das ciências, especialmente das matemáticas, a partir da Idade Moderna trouxe como consequência alterações e desenvolvimentos no campo da lógica. Segundo Doop (1950), houve uma aproximação com a lógica a ponto de uma das grandes correntes da lógica contemporânea ser conhecida pela designação de lógica matemática, sendo o seu desenvolvimento indissociável do desenvolvimento das matemáticas em geral. O aspecto formal foi levado ao extremo, com amplo recurso a um simbolismo de inspiração matemática. Daí outra designação com que é conhecida: lógica simbólica. A lógica tornou-se uma ciência positiva, independente das considerações metafísicas que tinham tanta importância na lógica clássica.
Todavia, apesar de grande parte dos seus resultados actuais estarem de facto confinados ou dizerem respeito especificamente às matemáticas, a lógica simbólica contemporânea assume e prolonga os resultados da lógica clássica, constituindo um instrumento imprescindível na análise do conhecimento científico e filosófico.
Francisco Lopes