Paradoxos

"Os paradoxos são divertidos. Na maior parte dos casos, são fáceis de enunciar e convidam-nos de forma imediata a tentar “resolvê-los.”
Um dos paradoxos mais difíceis de tratar é também um dos mais fáceis de enunciar: o paradoxo do mentiroso. Uma das versões correntes pede-nos que consideremos um homem que diz “o que estou a dizer agora é falso.” O que ele diz é verdadeiro ou falso? O problema é que se ele diz a verdade, está verdadeiramente dizendo que o que diz é falso, dessa forma diz uma falsidade. Mas se o que está a dizer é falso, uma vez que é apenas isso que diz estar fazer, tem que estar a dizer a verdade.
Diz-se que esse paradoxo “atormentou muitos lógicos da antiguidade e causou a morte prematura de pelo menos um deles, Filetas de Cos.”
Os paradoxos são sérios. Para lá de quebra-cabeças, que são divertidos, os paradoxos levantam sérios problemas. Historicamente, estão associados a crises no pensamento e a avanços revolucionários. Enfrentá-los não é simplesmente um jogo intelectual, mas antes enfrentar questões cruciais.
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Eis o que entendo que é um paradoxo: uma conclusão aparentemente inaceitável derivada através de um raciocínio aparentemente aceitável que parte de premissas aparentemente aceitáveis. As aparências têm de ser enganadoras, uma vez que o aceitável não pode conduzir por passos aceitáveis ao inaceitável. Temos uma escolha a fazer: ou a conclusão não é realmente inaceitável ou o ponto de partida ou ainda o raciocínio tem alguma falha que não é óbvia."
 Paradoxes,  R. M Sainsbury,  Cambridge University Press, 2009, 3.ª ed.