
Ser português é ser um desenho animado, é ter tiques, bigode e sotaque, ser baixinho e barrigudo, e construir frases só com palavrões.
Ser português é ser diferente, estranhar a diferença, mas respeitar a diferença.
Ser português é miscigenação, é não ser racista mas abrir uma excepção para com os ciganos. É ser motivo de piada pelos brasileiros, mas fazer humor sobre alentejanos e negros.
Ser português é ser patriota mas não conhecer a bandeira, o hino nem os heróis.
Ser português é ser navegador e conquistador.
Ser português é emigrar um mês e voltar, e esquecer a sua língua nativa, o português.
Ser português é fazer história mas não a conhecer, é esquecer os seus heróis mas lembrar os ditadores.
Ser português é ser poeta mas não saber ler nem escrever.
Ser português é ser poliglota, é ser contra o acordo ortográfico mas não diferenciar palavras homónimas, homófonas, homógrafas e parónimas.
Ser português é axaxinar o Portuguex ao eskrever.
Ser português é ser do contra, mas não se manifestar, é reclamar mas esperar que os outros apresentem queixa por si.
Ser português é prosas, piropos e poesias… É fadistas sem fado.
Ser português é música, é pertencer a um rancho, é cantar ao desafio, é improvisar.
Ser português é saudade, é saber receber, é dar sem se ter.
Ser português é não se governar nem se deixar governar, é comprar quando não se deve e vender quando não se quer.
Ser português é troçar do agricultor, é ser doutor, engenheiro ou professor.
Ser português é não respeitar quem o respeita, . É berrar, gritar e chorar, é reclamar mas não se queixar. É dar um murro na mesa mas, pedir desculpa por pedir desculpa.
Ser português é desconhecer o sentido de civismo, é estacionar em cima do passeio e tentar passar à frente na fila de espera. É cunhas, tachos e colheres.
Ser português é ser educado em privado mas cuspir e urinar em público.
Ser português é paz na rua mas guerra em casa.
Ser português é ser trabalhador mas não ser competitivo, é ser competente mas não gostar de trabalhar.
Ser português é desenrascar, improvisar, suar, sofrer e chorar, mas fazer.
Ser português é comprar casa, carro, mulher, é viver endividado mas viver à grande e à francesa!
Ser português é desrespeitar o código da estrada e fazer sinal de luzes para avisar os maus condutores.
Ser português é ter mau gosto, é merendas em vez de piqueniques, é bandeiras à janela e roupa interior a secar à varanda.
Ser português é cheiro a castanhas assadas nas ruas da cidade e a sardinha nas festas populares.
Ser português é ter fé, ter fé que o pior já passou. É ser católico mas já ter ido à bruxa.
Ser português é não fazer exercício físico.
Ser português é ser relaxado mas mal encarado, é acender o cigarro a qualquer hora e em qualquer lugar sem quaisquer preocupações.
Ser português é alegria, sorrisos e gargalhadas.
Ser português é família. É visitar os pais e avós ao fim-de-semana e viver em casa dos pais até aos 30. É futebol ao domingo à tarde e violência doméstica ao final do dia.
Ser português é ser vizinho, é chamar tio ao vizinho da frente e ao desconhecido.
Ser português é gastronomia, regar o bacalhau com azeite, é caldo-verde, é cozido.
Ser português é petiscos, é caracóis, marisco, moelas e tremoços. É sopa ao pequeno almoço, é cerveja fresca ao meio da manhã e vinho ao almoço e jantar.
Ser português é saber fazer, é suor e calçadas à portuguesa.
Ser português é - segundo o velho ditador, «…aquela doçura de sentimentos, aquela modéstia, aquele espírito de humanidade, tão raro hoje no mundo; aquela parte de espiritualidade que, mau grado tudo que a combate inspira ainda a vida portuguesa; o ânimo sofredor; a valentia sem alardes; a facilidade de adaptação e ao mesmo tempo a capacidade de imprimir no meio exterior os traços do modo de ser próprio; o apreço dos valores morais; a fé no direito, na justiça, na igualdade dos homens e dos povos; tudo isso, que não é material nem lucrativo, constitui traços do carácter nacional. Se por outro lado contemplamos a História maravilhosa deste pequeno povo, quase tão pobre hoje como antes de descobrir o mundo; as pegadas que deixou pela terra de novo conquistada ou descoberta; a beleza dos monumentos que ergueu; a língua e literatura que criou; a vastidão dos domínios onde continua, com exemplar fidelidade à sua História e carácter, alta missão civilizadora – concluiremos que Portugal vale bem o orgulho de se ser português.»
Helder Costa - in engenium.net