
Embora
o conhecimento seja, não um estado mas sim um processo e, como tal,
necessariamente relacionado com a actividade prática do homem (conhecer não é
só possuir uma representação mental do mundo, é também actuar no mundo a partir
da representação que dele temos), tradicionalmente, o conhecimento foi descrito
como uma relação entre um sujeito, enquanto agente conhecedor, e um objecto,
enquanto coisa conhecida. Dois grandes problemas se colocam:
1.
Qual a origem do conhecimento?
Será
que todo o conhecimento procede apenas da experiência? Será que alguns dos
nossos conhecimentos têm a sua origem na razão? Ou será que todo o conhecimento
resulta de uma elaboração racional a partir dos dados da experiência?
Três
respostas são possíveis a esta questão: o empirismo, o racionalismo e o
empírico-racionalismo ou intelectualismo.
O empirismo
O
empirismo considera como fonte de todas as nossas representações os dados
fornecidos pelos sentidos. Assim, todo o conhecimento é «a posteriori», isto é,
provém da experiência e à experiência se reduz. Segundo os empiristas,
inclusivamente as noções matemáticas seriam cópias mentais estilizadas das
figuras e objectos que se apresentam à percepção.
" Os pontos, as linhas, os círculos
que cada um tem no espírito são simples cópias dos pontos, linhas e círculos
que conheceu na experiência" Stuart Mill
Assim, "a linha recta seria uma simples cópia do
fio de prumo, como o plano, simples cópia da superfície do lago, o círculo da
lua ou do sol, o cilindro do tronco de árvore e a noção de número deriva da
percepção empírica de colecções de objectos." (Ribeiro e Silva, 1973, p.
390).
O racionalismo
Os
racionalistas consideram que só é verdadeiro conhecimento aquele que for
logicamente necessário e universalmente válido, isto é, o conhecimento
matemático é o próprio modelo do conhecimento. Assim sendo, o racionalismo tem
que admitir que há determinados tipos de conhecimento, em especial as noções
matemáticas, que têm origem na razão. Não quer isso dizer que neguem a
existência do conhecimento empírico. Admitem-no. Consideram-no porém como
simples opinião, desprovido de qualquer valor científico. O conhecimento, assim
entendido, supõe a existência de ideias ou essências anteriores e independentes
de toda a experiência.
Descartes
defende uma particular posição no interior do racionalismo: o racionalismo inatista.
O
empírico-racionalismo ou intelectualismo
Para
os defensores desta teoria, as nossas representações são construções «a
posteriori» elaboradas pela razão a partir dos dados experimentais. Assim, o
conhecimento tem a sua origem na experiência mas a sua validade só pode ser
garantida pela razão.
As noções matemáticas são construções racionais a partir da observação dos objectos e figuras que rodeiam o homem. Decorrem de processos de abstracção e regularização relativamente à irregularidade das figuras reais.
As noções matemáticas são construções racionais a partir da observação dos objectos e figuras que rodeiam o homem. Decorrem de processos de abstracção e regularização relativamente à irregularidade das figuras reais.
2.
Qual a natureza do conhecimento?
O que é que conhecemos? Os próprios objectos ou as
representações, em nós, desses objectos?
Para responder a estas questões, duas grandes
doutrinas têm sido defendidas:
O realismo
O
realismo afirma que no acto do conhecimento, o sujeito consegue apreender um
objecto que é independente e distinto dele.
O idealismo
O
idealismo defende que não é o objecto em si que conhecemos mas o objecto tal
como se nos representa. Em limite, não podemos saber sequer se há coisas reais,
transcendentes ou exteriores ao espírito ou, se pelo contrário, tudo quanto
existe está no espírito.
Descartes
recusa a concepção realista do objecto defendendo um idealismo crítico.
in: http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo