Método Científico - Apontamento por Carlos Fontes

Ciências de Referência


Todos as definições genéricas sobre ciência continuam a repetir invariavelmente conceitos extraídos das denominadas ciências experimentais, entre as quais se destaca a física. Quando no século XVII a física se tornou numa ciência experimental, os seus métodos  tornaram-se o padrão para as restantes ciências. No século XIX, o positivismo consagra esta concepção. Os conhecimentos da  física  são considerados  como proposições sobre a  totalidade da natureza.  Muitas vezes proclama-se que uma verdadeira filosofia deve ser uma ciência natural. Esta concepção encontra-se totalmente ultrapassada.
O grande objectivo das ciências experimentais é dar por meio de conceitos apropriados e deduzidos da experiência, uma representação mental dos processos que objectivamente se desenrolam na natureza.  
A Importância do Método na Ciência
 A objectividade do conhecimento científico é desde o século XVI, associado ao rigor do método de investigação utilizado. Nas ciências experimentais, o método assenta, em termos correntes, em quatro fases fundamentais: Observação, Hipótese, Experimentação e Formulação de leis:.
Observação
O cientista não tem uma atitude passiva face aos fenómenos, dado que não se limita a registar factos. Pelo contrário a observação científica implica:
- Uma selecção dos dados a observar em função de um dado modelo teórico que o cientista já dispõe, que determina o que deve ser observado e como deve ser observado. Neste sentido uma observação é já uma interpretação. O essencial é separado do acessório, unificando-se a diversidade empírica.
- A observação pode dar origem a múltiplas experiências cuja finalidade é proporcionar uma melhor observação dos fenómenos em condições controladas.
- A observação é mediatizada por instrumentos (microscópios, telescópios, etc), mas também por uma linguagem específica( a matemática, por exemplo) que permite conferir maior rigor à recolha de dados. É interessante verificar que o aparecimento da ciência moderna coincide com o aparecimento de inúmeros instrumentos de medida. 
Hipótese
Trata-se do momento inventivo da investigação. Uma hipótese é uma explicação provisória sobre as relações entre dois ou mais  fenómenos. É costume afirmar-se que estas explicações são obtidas através de induções e de deduções.
- Após ter observado as relações ou as propriedades comuns a vários fenómenos da mesma espécie, através de um raciocínio indutivo extraí-se uma lei comum. Galileu, por exemplo, após ter realizado várias experiências de queda de corpos supôs que todos os corpos caem ao mesmo tempo, independentemente do seu peso.
- Para controlar a validade e a generalidade destas relações, formula-se a hipótese da sua generalidade, através de um raciocínio dedutivo, procurando-se extrair as consequências destas relações. Estabelece-se então um teoria científica. 
-Uma hipótese considera-se adequada quando cumpre algumas condições, tais como: a) ser compatível com os factos estudados; b)Ser coerente com outras hipóteses anteriormente admitidas; c)Permitir que se façam observações ou experiências que a confirmem ou refutem; 
Experimentação
Trata-se de  "testar" a  hipótese na sua máxima generalidade  em condições controladas.  No caso da hipótese ser refutada pela experiência, volta-se ao início do processo. 
Formulação de  leis
Confirmada a hipótese na sua máxima generalidade, pode então formular-se uma lei. O princípio base de uma lei é a sua universalidade, enunciada da seguinte forma: sempre que nas mesmas circunstâncias ocorram as mesmas causas, produzir-se-ão os mesmos efeitos.

O método experimental (indutivista) tem sido objecto de várias críticas... 

David Hume foi o primeiro a colocar em causa a legitimidade deste método para a partir da observação de casos singulares e particulares extrair leis gerais e universais. Não podemos legitimar a passagem de casos particulares a leis universais. A conclusão indutiva não é logicamente irrefutável.
Experiências passadas não podem comprovar situações que ainda não ocorreram, como acontece nas leis científicas. Ex. Por o Sol ter surgido ontem, não podemos ter a certeza absoluta que amanhã esta ocorrência se venha a verificar. Neste sentido, o conhecimento cientifico é apenas probabilístico não absoluto.
Karl Popper considera o indutivismo como um mito que contamina as ciências da natureza. A prática cientifica é diversa da concepção teórica sobre os procedimentos seguidos na investigação. 
Ao contrário do que se afirma, os cientistas não partem de observações, mas de problemas.   
Os cientistas partem sempre de conhecimentos ou expectativas quando estudam um dado problema. As observações não são puras, estão impregnadas de teorias, conceitos, expectativas, etc.
A observação apresenta-se assim como um confronto entre as suas expectativas e teorias dos cientistas e os factos observados, gerando novos problemas. Nem tudo o que se pensava sobre caso é corroborado pela observação.
À semelhança de Hume, questiona que a indução possa servir de elemento de prova. Não é possível logicamente extrair de um conjunto de observações particulares, um princípio de alcance universal, isto é, aplicável às restantes observações que não foram feitas.
       
Método Hipotético-Dedutivo:
1. Os problemas são o ponto de partida da investigação cientifica;
2. Perante um problema criam-se  hipóteses (conjecturas), isto é, prováveis soluções do mesmo;
3. Deduzem-se em seguida consequências da hipótese;
4. Testam-se depois as consequências, recorrendo, por exemplo, a observações e experiências. O objectivo é verificar se as mesmas são incompatíveis com a hipótese (falsificabilidade);
5.  Esta verificação das consequências não nos garante que a hipótese esteja certa, mas apenas nos permite verificar a sua compatibilidade com as consequências dela deduzidas. Se as mesmas não superarem os testes, a hipótese estará "falseada" ou "refutada". Se superar estará corroborada, isto é, confirmada provisoriamente.
6. O conhecimento científico é hipotético e provisório, não é definitivo.


O que distingue o conhecimento científico de outros tipos de saber é que o mesmo não depende do procedimento indutivo, mas assenta no princípio da falsificação (refutação) empírica (através da experiência) das proposições. 
O conhecimento cientifico é refutável. 
"As teorias mais válidas nunca são teorias verdadeiras, mas apenas teorias que ainda não são falsas", Jean Baudouin, Karl Popper.
Carlos Fontes in: http://afilosofia.no.sapo.pt