A pergunta «qual
é o sentido da vida?» é provavelmente a que causa ao mesmo tempo mais desprezo
e mais respeito pela filosofia. Por um lado é uma pergunta notoriamente vaga e
deu azo a muitos disparates pomposos. Por outro, a necessidade de compreender o
sentido da nossa existência é profunda e universal, apontando qualidades da
mente que são possivelmente centrais para a existência humana.
Uma dificuldade
significativa que rodeia este tópico é a falta de clareza do próprio tema, e as
comparações que podemos fazer com outros contextos nos quais procuramos
encontrar um sentido tendem a aumentar a confusão. Quando procuramos o sentido
de palavras ou frases tentamos averiguar a forma como normalmente são usadas
para comunicar. Porém, a vida não é um elemento num sistema de comunicação.
Nada indica que seja usada ou que sirva para representar alguma coisa para além
de si própria. Em certas circunstâncias, também falamos sobre o sentido de
elementos não-linguísticos: as pegadas indicam a presença de alguém; as pintas
vermelhas na pele de uma criança significam que tem sarampo. No entanto, as
analogias com estes usos da palavra «sentido» não nos ajudam a responder à
nossa pergunta.
A religião, e
particularmente o judeo-cristianismo, proporciona um contexto natural para a
questão do sentido da vida. Se acreditarmos que um ser sobrenatural criou o
mundo de acordo com um plano grandioso, então a nossa pergunta procura saber
qual é a finalidade desse plano ou qual é o lugar que a vida nele ocupa. No
entanto, não se pode reduzir o tópico filosófico do sentido da vida — ou,
melhor, o conjunto de tópicos interrelacionados que ao longo do tempo têm vindo
a ser associados à nossa pergunta — a questões que só fazem sentido no âmbito
da religião.
As preocupações
centrais que subjazem a este tópico incluem questões sobre a existência de um
objectivo para a vida, sobre o valor da vida e sobre a existência de uma razão
para viver, independentemente das circunstâncias e interesses individuais.
Qualquer destas questões pode ser aplicada à vida, normalmente à vida humana,
mas também às vidas individuais, particularmente às nossas próprias vidas.
Podemos procurar motivações, razões e valores aceitáveis a partir de pontos de
vista que nos são exteriores, ou podemos restringir a nossa atenção ao campo
dos desejos e objectivos das nossas psiques ou das nossas comunidades,
indiferentes a possíveis perspectivas que possam existir além da esfera humana.
Embora a expressão «o sentido da vida» pareça pressupor apenas um sentido para
a vida, podemos ser levados a rejeitar este pressuposto sem ser preciso
concluirmos que a vida não tem sentido. Muitas vezes o próprio objecto da
pergunta vai-se transformando ao longo do próprio processo de lhe dar uma
resposta.
Portanto,
indagar sobre o sentido da vida é como envolvermo-nos numa busca em que só
estamos certos daquilo que procuramos quando o encontramos. Qualquer tentativa
de arranjar uma paráfrase inequívoca para a expressão «o sentido da vida» está
sujeita, tal como a própria expressão, a excluir certas opções e suprimir
caminhos de questionamento que não deveriam ser abandonados de antemão.
Susan Wolf in Routledge Encyclopedia of Philosophy