Sentido: busca da felicidade - por Alexandre Perlingeiro

"A maioria dos contos de fada termina com um beijo entre o herói e a donzela selando o início de uma felicidade duradoura e eterna, o famoso e tão ambicionado final feliz.
O beijo é um prémio, um símbolo, um marco; representa uma mudança de paradigma. Para chegar ali os heróis e heroínas tiveram que passar por provas e superar obstáculos a fim de conquistar e selar sua união e felicidade eternas. E a partir desse momento eles viverão felizes para sempre!
Foi assim com Branca de Neve, é assim com quase todas as teledramaturgias... toda a trama se desenrola até o final feliz.
E, aí acaba.
Passamos nossas vidas atrás desses finais felizes. Somos carentes de finais felizes. Mas, quando o alcançamos, o que acontece? Um dia a gente finalmente encontra o nosso príncipe ou a nossa princesa encantado(a), e aí? O conto de fadas ou a novela não revelam, mas a vida continua. Sobra para nós, pobres mortais, a tarefa de escrever esse capítulo que jamais será exibido. O dia-a-dia, a rotina, os filhos, as contas, as brigas...
Se o caminho anterior ao final feliz é feito de actos heróicos, conquistas e bravuras a serem proclamadas (até para impressionar o outro), nesta parte da vida tudo passa a ser mais silencioso, sem glórias nem glamour. Por isso muitas vezes o final feliz marca o início do fim. Não suportamos viver em um mundo sem fantasias. Não suportamos o contacto com a realidade. E, caso a relação seja uma daquelas poucas que sobrevivem ao passar dos anos, há também o passar dos anos... o envelhecer... a morte.
Este é o ponto central: não suportamos a ideia da morte. É desesperador saber que aquela relação vai terminar, que o amado(a) vai morrer, que eu vou morrer. Optamos por viver em um mundo de fantasias, na Terra do Nunca, onde ninguém envelhece e a morte não existe, um mundo onde a felicidade reina eterna. Por isso tentamos viver sempre até o final feliz, sem ultrapassá-lo.
De um lado o caminho do herói; de outro, o caminho da sabedoria. E o final feliz como linha divisória entre um e outro. E é claro que queremos porque queremos, de qualquer maneira, a qualquer custo, permanecer na parte heróica da história, onde o prémio é a felicidade eterna. Se de um lado tudo é festa e aventura e no outro reina a solidão e o silêncio, por que não ficarmos eternamente comemorando? Se posso ter tudo (de bom), por que não? "

Alexandre Perlingeiro, mestre em Dakshina Tantra Yoga