
Quanto à formação dos profissionais que cuidam da educação pré-escolar e escolar de todos os cidadãos portugueses, os educadores e os professores, a sua formação passou de um nível que nem sequer era superior (no pós-25 de Abril), para uma formação superior e, recentemente para o nível de segundo ciclo, ou seja, para cinco anos de formação inicial. Tratam da nossa educação, compreende-se!
Não, não se compreende.
Enquanto os alunos que acedem aos cursos de medicina têm as maiores classificações que existem no sistema português de acesso ao ensino superior, os jovens que acedem aos cursos de formação de professores são os que apresentam as piores médias de acesso ao ensino superior.
Não, não se compreende.
Enquanto os médicos, após a sua formação inicial, contam com mais seis anos de acompanhamento por parte de profissionais experientes, os professores são lançados em cima de salas de aula com 28 alunos, oriundos de múltiplos universos culturais, como se estas fossem os lugares mais tranquilos e simples do mundo, como fadas que são deitadas em cima de nuvens brancas de algodão!
Não, isto não se compreende nem se deve aceitar. Não há nada de inelutável neste quadro confrangedor. Tratamos da formação inicial e do acesso à profissão docente, governos e sindicatos, profissionais e cidadãos em geral, como se estivéssemos perante a formação de uns quaisquer profissionais de carregamento manual de máquinas mais ou menos automáticas. Engano dos enganos! A educação da infância e a educação escolar constituem um dos mais preciosos tesouros de cada sociedade, porque se trata da revelação da vida e da manifestação da identidade única de cada ser, em confronto com a verdade, o bem, a beleza, no tempo e no espaço, para uma cidadania activa. Trata-se de formar os profissionais que vão transmitir às novas gerações o “thesaurus cultural” que reúne o que de melhor a humanidade conseguiu alcançar até hoje.
Há manifestações da nossa estupidez colectiva que, pela sua repetição ao longo de décadas, nos vão cair dramaticamente em cima da cabeça. Estamos a ver que não se deve fazer assim, mas é assim que fazemos. Um cuidadoso e exigente acesso à formação incial, uma sólida formação inicial e uma muito acompanhada indução profissional constituem requisitos base para que a sociedade encare os profissionais docentes com outro valor e para que os professores sejam realmente (e não utopicamente) considerados e tratados como um dos mais estruturantes esteios de uma sociedade decente, digna e justa, alegre e um verdadeiro hino à vida.
Não se compreende tamanha inacção colectiva.
Joaquim Azevedo