A lógica e a
coerência do pensamento e do discurso
“Aquele animal é um cão e não é um cão.”
A frase é incoerente, dizemos que “não tem lógica”. Conduzimos
o nosso pensamento e discurso segundo determinadas “leis” da lógica, princípios
e regras que os tornam coerentes. São estas as condições que nos permitem
relacionar e estruturar a linguagem e até a acção de forma coerente. Há uma
ordem lógica e portanto racional que é preciso seguir.
Definição de Lógica
No sentindo etimológico, ela é a ciência do ‘logos’. O termo ‘logos’ de origem grega , significa : palavra, discurso, pensamento, razão, fogo ou luz. Como tal, a lógica terá por objecto o pensamento e o discurso, preocupando-se com a sua correcção. É a disciplina filosófica que se dedica ao estudo das leis, princípios e regras a que deve obedecer o pensamento e o discurso; terá em consideração o resultado dos processos do pensamento: o pensamento como produto, traduzido em enunciados.
A lógica permite estabelecer essas regras, de modo a distinguir os raciocínios válidos daqueles que não o são.
Importância da lógica
Ajuda-nos a adquirir competências que nos permitem
avaliar a validade dos argumentos que nos são apresentados, contribuindo assim
para desenvolver a autonomia e o espírito critico.
Proporciona-nos meios que possibilitam a organização
coerente dos pensamentos, desenvolvendo competências argumentativas e
demonstrativas, a fim de os podermos comunicar com rigor, coerência e
inteligibilidade.
Permite-nos analisar diversos tipos de discurso, do
científico ao político, para nos certificarmos da sua validade formal
Possibilita-nos a analise de ideias, juízos, raciocínios
e métodos de inferir, permitindo representar, através de uma linguagem
rigorosa, conceitos que pela subtileza escapam a toda a toda a determinação
precisa com a linguagem corrente. É por meio desses recursos que pensamos a
realidade e a podemos conhecer.
Princípios Lógicos
Princípio de Identidade
O que importa reter relativamente a este princípio é que
ele exige que num discurso se mantenha o mesmo significado dos termos e das
expressões.
Ex.: um cão é um cão
Princípio de (não) Contradição
Segundo este principio, é impossível aceitar uma
proposição e, ao mesmo tempo, a sua negação. De acordo com Aristóteles, dizemos
que é impossível que a afirmação e a negação sejam verdadeiras ao mesmo tempo.
Ex.: Se é verdade que é um cão, então é falso que não é
um cão.
A mesma coisa não pode ser e não ser ao mesmo tempo,
segundo a mesma perspectiva, ou, então, é impossível que o mesmo atributo
pertença e não pertença ao mesmo sujeito, ao mesmo tempo e segundo a mesma
relação.
É um cão grande e pequeno (não entro necessariamente em
contradição, pode ser grande em relação a um determinado cão e não o ser em
relação a outro.
O princípio de não contradição estrutura a realidade e o
nosso pensamento, estando na base das afirmações que produzimos acerca dessa
realidade.
Princípio do Terceiro Excluído
De acordo com este princípio, na sua vertente lógica,
sendo dada uma proposição, tem de a afirmar ou de a negar. Segundo Aristóteles,
de duas proposições contraditórias, uma delas tem de ser verdadeira e não podem
ser ambas falsas, ou seja, não é possível que haja qualquer alternativa entre
enunciados contraditórios, uma terceira via.
Ex.: Ou é um cão ou não é um cão e não há terceira
possibilidade.
A Importância destes Princípios
Estes três princípios são pressupostos de todo o
pensamento consistente. Sem eles, nenhuma verdade pode ser concebida. Sendo
leis fundamentais, exigem que lhes obedeçamos se queremos o nosso pensamento
tenha rigor e coerência. Quando pensamos e quando traduzimos o nosso pensamento
em discurso (oral ou escrito), utilizamos estes princípios que determinam todo
o nosso exercício racional. Eles revelam-se no discurso, porque o discurso é a
tradução do pensamento. Todavia, para pensar precisamos não só de princípios,
como também de instrumentos lógicos – O conceito, o juízo e o raciocínio.
Os instrumentos lógicos do pensamento
O conceito
O conceito é, numa perspectiva lógica, o elemento básico
do nosso pensamento. Só há pensamento porque há conceitos. Além disso, existe
uma relação muito estreita entre os conceitos e as palavras. As palavras são
fundamentais na elaboração do nosso pensamento e, por conseguinte, na
estruturação da nossa visão do mundo. O pensamento e a linguagem verbal são simultâneos
e interdependentes.
É necessário utilizar as palavras adequadas a fim de que
os conceitos se tornem claros. Importa, pois, clarificar devidamente o
conceito, para que nos possamos entender correctamente.
O Conceito é um instrumento mental que utilizamos para
pensar as diversas realidades (sejam materiais ou espirituais, concretas ou
abstractas) o conceito dá-nos uma representação dessas realidades.
O conceito resulta de uma construção, não é preexistente.
Essas representações obtêm-se através da experiência,
envolvendo diversas operações:
Dados empíricos
– conjunto de elementos que obtemos através da observação e da experiência
Comparação – é
exercida sobre os diversos objectos ou seres, procurando o que têm em comum
(características essenciais) e o que é próprio deste ou daquele
(características acidentais)
Abstracção –
consiste em separar mentalmente as características do objecto, retendo apenas
as que são comuns, e pondo de lado o que é individual.
Generalização –
consiste em aplicar as características comuns aos elementos pertencentes a toda
a classe
Assim o conceito = elemento essencial do pensamento.
Consiste na representação intelectual, abstracta e geral da essência de um conjunto
de seres e justamente por nada afirmar ou negar, constitui o elemento básico do
pensamento. É uma síntese que reúne as características comuns (ou invariantes)
de uma diversidade de seres ou acontecimentos.
Os conceitos são o conteúdo significativo; as palavras
são unicamente os signos, os símbolos das significações.
Os Conceitos podem ser objectivos ou então funcionais
Objectivos –
são os conceitos que se referem a objectos. Mas alguns são empíricos, nem todos
resultam de um processo de abstracção através da experiência sensível. Existem
também os conceitos que não correspondem a seres materiais e visíveis, mas a
seres ideais, metafísicos ou axiológicos (alma, Deus, Bondade)
Funcionais –
aqueles que estabelecem as relações entre os anteriores (verbos, conjunções, os
advérbios…)
O conceito não deve reunir em si elementos
contraditórios.
O conceito deve restringir-se ao campo da possibilidade
lógica.
Os conceitos não existem isolados, mas formam redes
conceptuais.
O Termo
Um conceito pode ser expresso por vários termos.
Um termo pode ter várias significações, isto é, pode
expressar vários conceitos
O termo é a vestidura convencional e simbólica do
conceito pela qual este se fixa e se delimita
O mesmo conceito pode ser expresso por termos diferentes (diferentes
línguas por exemplo)
O mesmo termo pode expressar diferentes conceitos
(compasso – instrumento de desenho / divisão se tempo na musica)
Do ponto de vista lógico:
Não confundir termo
com palavra;
O termo pode ser
constituído por uma ou por varias palavras, quando constituído por mais que uma
palavras, os termos designam-se por expressões conceptuais (ser vivo, animal
domestico.)
Extensão e Compreensão
Extensão de um conceito – é o conjunto de seres,
coisas, membros que são abrangidos por ele, ou seja, são os elementos da classe
lógica que é definida pelo conceito.
Compreensão de um conceito – é o conjunto de qualidades,
propriedades, notas, características ou atributos que definem esse conceito.
A compreensão e a extensão variam na razão inversa
ou seja, à medida que aumenta a extensão, diminui a compreensão. Á medida que a
extensão diminui, aumenta a compreensão. Por outras palavras, quanto maior é o
numero de elementos a que o conceito se aplica (extensão), menor é a quantidade
de características comuns (compreensão).
Ex: (Estes conceitos estão dispostos por ordem
decrescente quanto á extensão e por ordem crescente quanto à compreensão.)
Ser
Ser vivo
Animal
Vertebrado
Mamífero
Cão
O Juízo e a Proposição
Características dos juízos
Os conceitos formam redes conceptuais, logo quando
pensamos, relacionamos conceitos, e relacionar conceitos é o mesmo que julgar
ou formar juízos.
Julgar é sinónimo de predicar. Assim, quando formam um
juízo, afirmamos ou negamos alguma coisa (o conceito de predicado)
relativamente a outra coisa (o conceito de sujeito).
Ex.: a casa é branca
O sujeito (a casa) é o ser a quem se atribui o predicado,
é o conceito relativa/ ao qual se afirma ou nega algo. O predicado (branca) é aquilo que se diz do sujeito,
podendo ser afirmado ou negado.
A cópula (é) é o elemento que relaciona o sujeito com o
predicado
Se o sujeito (S) e o predicado (P) representam o conteúdo
ou a matéria do juízo, a cópula representa a sua forma, podendo ser afirmativa
(é) ou negativa (não é)
Função do juízo = afirmar ou negar
S é P (formula clássica)
Em síntese:
Podemos definir o juízo, como a operação mental que
permite estabelecer uma relação de afirmação ou de negação entre os conceitos,
podendo tal relação ser considerada verdadeira ou falsa e quando expressada,
chamamos-lhe Proposição.
Qualquer frase declarativa pode transformar-se num juízo
do tipo S é P.