
De tudo o que fazemos, apenas consideramos ações aquelas que respondem a um fim. O fim para o qual tendem as minhas ações e que faz com que falemos da ação como de um ato intencional é algo que está presente ao atuar (ao entrar no restaurante estou consciente de que a minha intenção é comer), mas ao mesmo tempo é algo que está mais para lá (ainda não estou a comer, espero fazê-lo num futuro próximo). Enquanto atuo, as intenções estão presentes apenas como ideias ou conteúdos mentais, e só se convertem em factos se a ação chegar a bom termo.
Quando as nossas intenções se cumprem, dizemos que a ação foi um êxito: conseguimos o que pretendíamos. Neste caso, o resultado da ação é a transformação da intenção num facto, por exemplo: comer e saciar o nosso apetite. Pode acontecer, no entanto, que a nossa ação seja um fracasso: a intenção não passa de intenção, e esta fica-se por uma tentativa frustrada. Por exemplo: entro no restaurante, mas a cozinha está fechada e fico sem comer.
Quer a ação seja um êxito quer seja um fracasso, existe a possibilidade de que dela se sigam efeitos não imaginados. Neste caso, falamos das consequências não previstas da ação. Se entro no restaurante, a cozinha está aberta e eu posso comer, diremos que a minha ação foi um êxito. No entanto, se após a refeição sofro um indigestão, parece paradoxal falar de êxito. A indigestão não é um resultado da minha ação, mas uma consequência dela.
As consequências não previstas não pode ser consideradas ações, uma vez que não são algo que façamos intencionadamente, mas algo que nos acontece (como, por exemplo, ressonar).
VVAA. Filosofía. Barcelona: Grupo Edebé, 2004, p. 225