Como comentar um texto filosófico - Carlos Fontes

Leitura impressiva
Antes de comentar um texto filosófico é necessário primeiro lê-lo. Começa por fazer uma primeira leitura repousada, sem preocupações técnicas. Não se trata de saber o significado de todas as palavras ou frases, mas apenas de apreender a ideia geral, o problema que está a ser abordado pelo autor. De que é que ele está a falar?
Leitura explicativa
Nesta segunda leitura, procura saber o que diz o texto, sem te preocupares já com a questão de validade ou não das afirmações do autor, ou das suas relações deste texto com outros sobre a mesma temática, etc. Trata-se de:
- Entender o significado das palavras e das frases utilizadas pelo autor.
Nesta tarefa podes e deves recorrer a Dicionários ou Histórias da Filosofia. Dialogar com o professor sobre o assunto.
- Precisar a ideia central do texto e algumas das questões que a mesma envolve.
É importante que faças um resumo desta ideia com as tuas próprias palavras, tentando identificar o(s) problema(s) que o autor abordou e as respostas a que chegou.
Leitura compreensiva
Nesta leitura não se trata apenas de apreender a ideia central do texto, mas de compreendê-lo no seu conjunto.
- Como o autor pensa. Como se desenvolve o tema? Que ideias secundárias apresenta? Como justifica as suas posições? Quais as ideias que procura refutar?
Nesta fase é fundamental elaborar um esquema dos passos seguidos pelo autor no desenvolvimento do tema. Este pode ser realizado com base em frases do próprio autor, de esquemas gráficos, quadros sinópticos, etc...
- O nosso ponto de vista. Quais as ideias que consideramos principais e secundárias? Cada autor não deixa de ter a sua própria perspectiva do texto, de acordo com as suas vivências, saberes, etc. Este facto traduz-se em diferentes perspectivas sobre o mesmo assunto, contribuindo desta forma para uma compreensão mais ampla e multifacetada do próprio texto.
Comentário Crítico
Entramos na última fase. Existem muitas formas de fazer um comentário crítico. Passos recomendados:
Contextualizar o texto- Relacionar o texto com outros textos, criando um verdadeiro diálogo intertextual. A quem pertence e em que época viveu? Quais as ideias do seu tempo? Qual o lugar do texto no conjunto da obra do autor? Em que contexto histórico foi escrita? Que circunstâncias históricas rodearam a sua elaboração? O texto dialoga com que ideias do seu tempo? Etc.
É fácil perceber que muitas destas questões podem ser colocadas logo no início, no meio ou no fim da leitura do texto. Em todo o caso, devem ser repensados no final.
Avaliar o texto- Com base nos elementos anteriores, deve analisar-se agora a própria relevância do texto. O que é que ele trouxe de novo? O que é que avança em relação ao pensamento de filósofos anteriores ou contemporâneos? Os argumentos expostos são convincentes? Possuem lacunas e incoerências? Que valor tem estas ideias para o nosso tempo? Ao longo deste processo estamos sempre a incorporar as nossas próprias ideias sobre o assunto, nomeadamente pela forma como destacamos umas questões em vez das outras, como encadeamos as perguntas, etc.
Carlos Fontes