
A minha resposta
era o oposto. Não por embirração, mas por convicção. Estará
subvalorizada a importância do pensamento crítico, estruturado e
criativo na resolução dos problemas que nos afligem. Talvez se deva ao
ritmo frenético a que vivemos e que obriga à tomada de decisões
imediata, que resulta, frequentemente, numa tomada de decisões
irreflectida. Haverá, pois, quem valorize mais a acção, mas tenho para
mim que acção sem pensamento que a sustente é tão estéril quanto o
pensamento que não gera acção. O melhor será que o pensamento esteja
ligado a um sentido de Presente e Futuro, mais do que a um sentido de
Passado. Pensar o que já se fez importa para que possamos tomar decisões
informadas, porém permanecer apenas no que resultou antes não levará a
que se possa criar um pensamento voltado para trabalhar com sucesso o
que ainda está por vir.
Sem a relação de causalidade entre o
pensamento e a acção, será pois difícil ultrapassar a superficialidade
na resolução dos problemas, que continuarão a acumular-se e a
agudizar-se. O pensamento impõe-se como uma necessidade para que
avancemos na acção. Pensar não é tarefa fácil. Uma das maiores
dificuldades decorrentes do exercício intelectual é o facto de só
mostrar resultados positivos quando é feito de forma livre. Ora, num
contexto em que a mente sempre esteve habituada a bengalas para abreviar
caminho, o complicado será explicar-lhe que no novo caminho que deverá
fazer terá primeiro de se libertar de quaisquer abreviaturas de
pensamento.
O importante é deixarmos as certezas que tínhamos de
lado e darmo-nos à interrogação. Não o poderemos fazer sozinhos, claro.
Devemos acompanhar-nos de bons mestres. Os mais importantes são os
livros. Mas todas as formas artísticas ajudam a desarranjar a mente para
que a possamos voltar a arranjar depois. Será por isso que os inimigos
do livre pensamento tanto tentam apequenar as artes e a cultura.
Desconfie-se
pois de todos os que nos querem convencer de que a cultura e as artes
não são essenciais à nossa vida, porque o que nos estão realmente a
dizer é que não é essencial aprendermos a pensar de forma crítica,
informada e criativa. Como sabemos, estes predicados são essenciais à
liberdade do pensamento e, consequentemente, à liberdade do indivíduo. O
que nos faz voltar à questão inicial. Nos dias de hoje, em que o
indivíduo tende a ser subjugado pelo poder económico, a solução ou
soluções para nos conseguirmos libertar de tão apertadas amarras só
poderão surgir de ideias novas.
Já percebemos que os políticos e a
elite actual não estão preparados para produzir as ideias e o
pensamento novo de que precisamos para avançar. Por isso, é necessário,
agora mais do que nunca, que avancemos todos, em conjunto, com as nossas
ideias para a discussão de um novo sistema de valores éticos,
económicos, políticos, morais. Já é tempo de deixarmos de permitir que
construam (ou destruam) o mundo por nós. Sem desculpas, deitemo-nos a
pensar e levemos as mãos à obra.
Ana Bacalhau in dn.pt