
Há
factores biológicos,sociais e culturais que condicionam a nossa acção. Será possível, apesar
disso, provar que certas decisões são radicalmente livres ou, sequer, que há
uma parte absolutamente livre em algumas delas? Ou seremos apenas robôs
manipulados pelas leis da Natureza e da sociologia?
Segundo
os filósofos que defendem o determinismo
qualquer acontecimento é o resultado de causas que o antecederam; aplicada aos
actos humanos, esta teoria defende que nenhum dos nossos actos depende
realmente de nós, mas sim da conjunção das leis da Natureza, da sociedade e da
mente humana. Ao contrário, segundo os defensores da existência da liberdade,
há, no mínimo, algumas acções livres: cada qual possui o poder de se determinar
por si próprio.
Os
defensores da liberdade
fundamentam-na frequentemente na possibilidade de esta ser atestada pela nossa experiência; em múltiplas situações do
quotidiano sentimos que poderíamos ter feito algo diferente daquilo que
realmente fizemos: na fila de uma cantina, escolhemos o bolo de sobremesa
em vez de fruta e percebemos que não houve factores que tornaram inevitável a
escolha feita – como está determinado à partida que o sol se levantará amanhã.
A nossa capacidade racional permite-nos prever
os resultados das nossas diferentes opções e, portanto, escolher em liberdade.
Objecção
dos defensores do determinismo absoluto:
do facto de optarmos não podemos concluir que exista liberdade; as opções podem
estar totalmente determinadas.
Segundo o princípio da causalidade universal, tudo o que sucede tem que ter uma
causa; chamamos livres aos actos cujas causas desconhecemos
—como chamamos casuaisaos acontecimentos cujas causas ignoramos. Assim,
a liberdade é uma ilusão: todos os nossos actos são o resultado necessário de
factores anteriores, incluindo actos tão simples como a escolha de um sabor de
uma pastilha elástica. “Uma escolha, uma decisão, é um acontecimento
psicológico (neurológico) na mente de alguém: consiste na troca de mensagens
entre células do cérebro sob a forma de impulsos electroquímicos, ou seja,
factos biológicos, que obedecem a leis biológicas e físico-químicas. Para além
destas muitas e complexas causas físicas, temos um outro conjunto de causas, as
especificamente psicológicas: talvez tenha escolhido o sabor laranja em parte
porque fui estimulado a habituar-me a ele na infância ou porque ele esteve
associado a situações agradáveis, como festas, ou porque nos últimos tempos
bebi muitas vezes limonada e agora o sabor a laranja me pareça mais
convidativo, etc. Mas tudo isto (e todas as hipóteses que a psicologia pode
levantar e estudar para além destas poucas) se poderá dar a um nível que é, em
grande parte, inconsciente, pelo que não damos por elas e pensamos,
erroneamente, estar a ser livres na nossa escolha” (CASELAS, António; LOPES,
António; MARQUES, Francisco– Filosofia 10º ano. Carnaxide: Constância).
O determinismo absoluto leva a uma perspectiva teleológica das determinações,
uma vez que, se está tudo absolutamente determinado então está tudo
predeterminado.
Contra-argumentação (possível) em defesa da liberdade: é inegável que é
impossível agir sem determinações, condicionantes e limites. Apesar destes
factores e para lá deles, a liberdade é possível enquanto capacidade de, pela criatividade, usar essas determinações
e condicionantes a nosso favor e superar esses limites. Somos, em alguns
aspectos, inferiores a certos animais; o ser humano é mesmo, à partida, o mais
desamparado dos animais: não tem as garras do leão nem a visão das aves de
rapina, mas, para ultrapassar essa situação, criamos instrumentos – objectos de
corte para suprir a falta de garras, binóculos para ver melhor, aviões para
superar a força da gravidade, etc. A nossa inferioridade é a base para a construção da
nossa superioridade.
ocanto.esenviseu.net/novo10/accao2.htm(texto adaptado por prof. L.R.G.)