
Moreira
dedica um capítulo à análise da expressão "tá td?", que dá o título
ao livro (pp. 27 e seguintes). Regista duas contrações e uma omissão: a
contração do verbo e do pronome, um reduzido à última sílaba e o outro
expurgado de vogais; e a omissão do advérbio bem, que se subentende sem sequer
ser assinalado por qualquer abreviatura. A este propósito, sente-se, Moreira
experimenta um pequeno êxtase gramatical: "A falta do advérbio acrescenta
um jogo de subentendidos entre emissor e receptor que tem interpretação
múltipla. Que significa a desaparição do 'bem'? Que não há lugar para o bem
naquela relação comunicativa? Ou, pelo contrário, que a presença do bem é
tangível a ponto de ser desnecessário articulá-la verbalmente? Ou serão ambas verdadeiras,
gerando uma tensão (inevitavelmente erótica) que a expressão 'jokas' parece
confirmar?" (p. 41).
Sobre
"jokas", Moreira debruça-se no capítulo seguinte. Em primeiro lugar,
nota que, naquela abreviatura de "beijocas", a introdução do k não
contribui para a poupança de letras que caracteriza a maior parte destes
textos, daí retirando as devidas conclusões: "O k de 'jokas' não revela
uma preocupação com a economia dos caracteres, mas sim com a introdução de um
elemento de novidade: o que se diz é que estas 'jokas' são diferentes de
eventuais 'jocas'. Em que consiste essa diferença? Modernidade e exotismo são
valores que nos ocorrem imediatamente, e parece ser esse o objectivo da
utilização de letras de outros alfabetos." (p. 66).
Deve fazer-se referência a um conceito interessante, avançado por Moreira: "A linguagem usada em sede de SMS revela, de um modo geral, aquilo a que poderíamos chamar 'literacia de chimpanzé', no sentido em que lança mão dos recursos de que um chimpanzé vagamente familiarizado com uma gramática também lançaria, como utilizar os sinais de pontuação para desenhar caras sorridentes ou tristonhas, por exemplo." (p. 81). Isto, sublinha Moreira, não passa de suposição, pelo menos até à altura em que o primeiro chimpanzé for vagamente familiarizado com uma gramática. Aguardemos.
Deve fazer-se referência a um conceito interessante, avançado por Moreira: "A linguagem usada em sede de SMS revela, de um modo geral, aquilo a que poderíamos chamar 'literacia de chimpanzé', no sentido em que lança mão dos recursos de que um chimpanzé vagamente familiarizado com uma gramática também lançaria, como utilizar os sinais de pontuação para desenhar caras sorridentes ou tristonhas, por exemplo." (p. 81). Isto, sublinha Moreira, não passa de suposição, pelo menos até à altura em que o primeiro chimpanzé for vagamente familiarizado com uma gramática. Aguardemos.
Ricardo Araújo Pereira In
Visão.pt