A associação das palavras
“maluca” e “ciência” tem uma longa tradição na literatura de ficção, na banda
desenhada e no cinema. Pois não é o perigoso Frankenstein o produto de um
cientista louco? E o professor Tornesol das “Aventuras de Tintim” não é o
protótipo do cientista tão genial como lunático? E não é ainda a “mente brilhante”
do matemático John Nash ofuscada pelos seus ataques de esquizofrenia?
De facto, essa associação,
embora decerto infeliz para a imagem da ciência, contém alguns laivos de
verdade. Não que os cientistas sejam malucos. Os cientistas são tão loucos,
lunáticos ou esquizofrénicos como a generalidade da população (há, por exemplo,
estatísticas sobre a percentagem de esquizofrenia entre os cientistas, que está
próxima da percentagem geral, o que só mostra que os cientistas são pessoas
como as outras). Mas é forçoso reconhecer que a ciência contraria muitas vezes
o senso comum e, se aceitarmos como definição de maluquice a fuga ao senso
comum, não será completamente injusta a ideia do “cientista maluco”.
Quando a ciência contraria o
senso comum, este sai normalmente derrotado. A atitude científica consiste precisamente
em ir além do senso comum, em procurar descrições e explicações do mundo que
não se justifiquem apenas pelas primeiras aparências mas que estejam antes solidificadas
por evidência verificável. Um dos primeiros exemplos, e de certo modo um dos
mais triviais, é a ideia de que a Terra se move em volta do Sol. Foi uma ideia
maluca porque contrariava o senso comum, mas hoje ideia maluca é,
evidentemente, a contrária.
Carlos Fiolhais in
nove ideias malucas sobre ciência