Dificuldades do plano ontológico - Platão e Kant

Platão (Aristócles) e kant podem ter bem mais em comum do que aquilo que à
primeira vista pode parecer.
A “caverna” (prisão que o corpo é) constitui na teoria Platónica um impedimento ao conhecimento sensível, já que não há objecto de experiência com qualquer fiabilidade. Um mundo das sombras um pouco à maneira do universo de Heraclito onde tudo flui, ficando a verdadeira experiência - como pensa Parménides - reservada para as “coisas” perenes e imutáveis: as ideias - os arquétipos.
Os produtos da experiência sensível são meras sombras das Ideias eternas que, por sua vez, são a forma de todas as coisas, as únicas de que se pode dizer serem “Verdades imutáveis”, não nascem ou morrem. Por outro lado as suas cópias (sombras de um mundo de luz e por isso mergulhadas na “ignorância” e na “δοχα”) estão sujeitas ao desgaste da temporalidade e às contingências do sensível. O verdadeiro conhecimento está para lá das possibilidades do humano vivente.
Por seu lado Kant concebe que tempo e espaço são meras formas do nosso conhecimento: pertencem unicamente à estrutura do sujeito humano que não pode conhecer nada fora desse tempo e espaço (condições da sensibilidade). 
Assim as estruturas a priori do conhecimento (tempo e espaço) não são da natureza da “coisa em si”, estão antes presentes no homem enquanto sujeito fenoménico. O conhecimento humano fica condicionado por essas formas na sensibilidade e pelas categorias no entendimento. Podemos conhecer o mundo fenoménico, podemos conhecer as coisas como as formas (categorias a priori da sensibilidade e do entendimento) permitem. No entanto fica-nos permanentemente vedado o acesso ao mundo numénico, à coisa-em-si, que não se submete a essas categorias.
Vemos agora que tanto para Platão como para Kant, o mundo visível é fenoménico, limitado no que respeita ao verdadeiro conhecimento e derivado de alguma forma de transcendentais: as ideias platónicas e o Númeno (coisa em si). 
Ambos mostram um certo “desprezo” quanto aos sentidos e à vida quando defendem um princípio metafísico fundante que dá sentido a todo o resto. A essência das coisas está, nestes autores, situada para além desta realidade, ficando o nosso conhecimento ontologicamente dependente de um universo ôntico.
F. Lopes