Direitos do Homem e legitimação dos Estados - por António Teixeira Fernandes

A época contemporânea surge no meio de profundas convulsões operadas no universo simbólico das sociedades ocidentais. As transformações ocorridas nos diversos sectores da realidade, desde a economia, à política, e à vida social, resultam do facto de diversas correntes de ideias se terem encontrado na experiência e na acção de alguns segmentos da população. As revoluções são mais um tempo avançado de um processo do que o seu início. Elas servem de catalisadores a sensibilidades e a vontades de mudança.
Não são as revoluções que actuam como forças transformadoras das sociedades. O que faz avançar o mundo são as ideias. Aquelas, sem estas, não produzem mudanças profundas. As grandes transformações sociais e políticas são precedidas, em todos os tempos, de renovações espirituais e de fortes movimentos de opinião pública. Do ponto de vista democrático, não se pode decidir a sorte de um povo sem este ser esclarecido e ser chamado a decidir.
As revoluções são um mero instrumento na realização das ideias, actuando como a sua consequência, não como a sua causa. No imaginário social, às revoluções é, no entanto, conferido o estatuto de princípio fundador. São mais aparentes do que as ideias, que permanecem na sua imaterialidade, acabando por alterar de facto as condições da existência e por ficar na memória colectiva.
A reflexão actual sobre os direitos do homem muito tem a ganhar com o tentar captar o seu sentido nas sucessivas mudanças que afectam as sociedades. Vive-se numa cultura em movimento e é necessário esquadrinhar o seu significado mais profundo, se se quer sentir e conhecer o seu dinamismo e a sua orientação.
António Teixeira Fernandes in http://ler.letras.up.pt