Cientistas Filósofos ou Filósofos Cientistas ?

Dadas as afirmações que antecedem e outras do mesmo sentido referidas quer neste trabalho quer noutros locais pode compreender-se porquê a filosofia e as ciências estiveram durante muito tempo confundidas uma com a outra e que inclusivamente muitos cientistas tenham visto na ciência perspectivada pela filosofia uma entidade mais válida para resposta a questões não prováveis pelo método experimental.
Hoje ainda, e apesar dos limites entre uma e outra ( Ciência e Filosofia ) estarem de alguma forma mais clarificados, os resquícios dessa indeterminação anterior sob a qual foram formados culturalmente muitos cientistas e da necessidade de se dar resposta ao não – provável fazem ainda os seus estragos ( ? ) na compreensão desses mesmos limites. É o que entende, entre outros, Louis Althusser em " Filosofia e Filosofia espontânea dos Cientistas ".
Segundo Althusser, em altura de crises científicas, alguns cientistas reconhecem que sempre encerraram dentro de si um filósofo adormecido, mas, como é necessário arranjar um bode expiatório para as frustrações, culpam esse filósofo dupla e contraditoriamente, ou seja, porque contribuiu para a sua crise científica e porque nada terá feito para a evitar.
Como reacção, saem estes cientistas da ciência errada ( pelas razões referidas) mas continuam na ciência tentando corrigi-la com os seus próprios métodos científicos fazendo uma prática e uma teoria adaptada à negação do erro ( crise ) anterior, ajustando assim novas concepções científicas em substituição das erradas. Até que ponto, ou em que grau, abandonam a filosofia ( o filósofo adormecido que vivia / vive (?) neles ) será uma questão a deixar em aberto...
Para complicar o processo de análise entre o que é ser cientista e ser filósofo não faltou também quem, na história da filosofia, afirmasse que a filosofia é uma ciência, como é o caso de August Comte (1798 / 1857), em quem o positivismo que defendeu sendo declarado como ciência não se limitava a uma teoria do saber de uma ciência determinada, nem sequer a uma sistematização das ciências, mas representava, isso sim, um sistema geral da realidade, um sistema não só de verdades mas também de valores, isto é, uma filosofia.
Aquilo que caracteriza a ciência é o apelo à verificação, a subordinação das teorias aos factos, o espírito experimental, enquanto a filosofia se satisfaz com uma coerência interna e se limita progressivamente aos problemas que não podem estar sujeitos ao controlo da experimentação. Esta seria uma tranquilizadora separação metodológica e sistemática se as questões se pudessem apresentar de uma forma única ou decisiva mas assim não é.
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