Cosmogonia Helénica

A mitologia grega é um marco importante na evolução do pensamento da época e ainda um meio necessário para a compreensão da mentalidade no mundo helénico, caracterizada por uma ordem, uma fonte de inspiração para um mundo mais civilizado.
Através da mitologia antiga podemos sentir a história, a história daqueles tempos e a história dos deuses, dos heróis e dos homens, que estão ligados pelo inconsciente imaginário. Na sua fantasia, os gregos povoaram o céu e a terra, os mares e os mundos subterrâneos de divindades, ao mesmo tempo que criaram uma categoria intermediária para os semi deuses e para os heróis.
No quadro temático dos deuses, Zeus, deus do Céu luminoso e de todos os fenómenos atmosféricos, ocupa um lugar destacado, pois tudo vê, tanto o presente como o futuro. Zeus, sábio e justo, é o grande deus do panteão helénico. Ele personifica a força do bem utilitário num mundo e numa época ainda dominados pela barbárie.
Torna-se o soberano supremo dos deuses e dos homens através de um estratagema delineado por sua mãe, Reia, esposa do titã Cronos. Este, que havia destronado o pai para ocupar o seu lugar, desfazia-se sempre de todos os seus filhos, engolindo-os à nascença.
Estando Zeus para nascer, Reia sua mãe pediu conselhos a seus pais, a Terra Geia e ao Céu Urano, quanto ao modo de proteger o seu filho. Assim, Zeus nasce no cimo do monte Ida, em Creta, de acordo com os planos estabelecidos, tendo sido posteriormente confiado às ninfas Ida e Adrasteia. Desta forma, Zeus cresce ao abrigo dos maus desígnios, protegido e ensinado por Métis, a sabedoria, filha do titã Oceano.
Na altura precisa, Zeus depôs o seu pai, tomando o trono, conquistando-o por direito próprio e pela sua valentia e assumindo o poder soberano e a posse do império celestial. Assim, ele torna-se o poderoso regulador do Universo e nunca mais nenhum adversário ousará opor-se à sua soberania.
Zeus que é uma figura imponente, assume-se como astucioso e as suas aventuras amorosas são muitas. Servindo-se dos seus dons de metamorfose, o Deus supremo encanta as belas amantes, divindades e/ou mortais, que pretende conquistar.
Zeus, representado por inúmeras formas, é para o povo grego um ideal de maturidade humana, de força, de majestade, de inteligência e de sabedoria.
Uma vez despojados do seu prestígio de verdade revelada, os mitos não deixam de levantar problemas ao espírito. Os próprios antigos tinham procurado uma explicação dos mitos. No entanto, sem resultado, pois é apenas no século XIX que a mitologia grega começou a ser tratada seriamente, como objecto de conhecimento e análise.
Então, o mito surge como o lugar por excelência, onde deviam refugiar-se, sublimações e símbolos. A mitologia antiga seria por isso, um verdadeiro subconsciente dos povos antigos, onde se encontrariam as suas aspirações, os seus temores e os seus terrores, tudo o que a moral consciente recusava ou não sabia interpretar.
Por outro lado, os mitos vieram trazer uma nova visão do Universo, uma visão baseada na fantasia, na imaginação e no mundo do sonho, embora com um cunho já de âmago espiritual e imortal.
Na Antiga Grécia, eram adorados muitos deuses, em especial os doze deuses do Olimpo, aos quais eram atribuídos determinados poderes, todos eles já referenciados.
Para os gregos, os deuses eram potências sobre humanas, concebidos à imagem dos homens e por isso os deuses eram omnipresentes na vida social e privada na Antiga Grécia, sublinhando-se que o comportamento individual estava condicionado pelo respeito inalterável do sagrado e ainda pela obsessão de que qualquer prática poderia ser considerada impura. O humano conhece a fraqueza da tentação, mas também a sociedade do Olimpo partilha dos defeitos e das qualidades dos humanos.
Nos poemas homéricos e na epopeia grega há uma nítida preocupação com o desenvolvimento da acção do que com a psicologia das personagens. Ora, o desenvolvimento da acção, como as atribuições e a natureza própria de cada divindade são resultado de episódios mais marcantes em que os deuses se encontram empenhados e /ou envolvidos.
A mitologia grega não deixa de constituir um estratagema religioso e histórico na civilização helénica, servindo de um modo ideal à vivência grega em todas as suas aspirações. O mito, sob a forma de narrativa épica, torna-se um instrumento por excelência da educação vivencial e moral, sendo a expressão poderosa da esperança e do ideal e fornecendo um universo poético, um dado que cada um modela à sua própria verdade interior.
As manifestações de piedade decorrentes em solo do mundo grego são específicas de uma religião que não era uma religião revelada. A religião grega não se baseava em nenhum texto sagrado, nem se fundamentava em qualquer dogma, não havendo a preocupação da salvação individual, conceito alheio ao mundo helénico.
Por outro lado, a morte suscitava mais pavor do que esperança, garantindo mais medo do que libertação, garantindo a perenidade da comunidade familiar ou de um grupo social. Na obra de Ésquilo, As Coéforas, o diálogo de Electra com o pai, a quem é dirigido um forte apelo, revela que os mortos eram honrados no mundo grego, embora se mantivesse com eles uma separação distante e respeitosa.
A interligação entre os homens e os deuses na Antiga Grécia era por intermédio da oração, proferida em voz alta, a fim de ser ouvida e atendida pelos deuses, os quais pareciam ser mais atentos às suplicas da colectividade do que às suplicas individuais.
A finalizar, podemos ainda destacar que o imaginário esteve sempre presente no quotidiano do povo helénico e é através desse imaginário que a sociedade grega mostra a sua força física e espiritual. O imaginário alimenta a própria mitologia grega, sendo uma base de apoio à cultura e religião gregas.

Alberto Manuel Vara Branco in http://repositorio.ipv.pt