Qual é o sentido da vida? - por Ana Soares

João Sobral afirma que ao falar do sentido “podemos dizer que o sentido de uma determinada coisa é ela em si mesma, é encontrá-la, descobrir o seu valor. (…) O sentido da nossa vida é, por isso, uma base onde assentam todos os nossos atos, todos os nossos desejos e todos os nossos objetivos. Uma base escolhida por nós próprios."(1) Esta última frase fez-me reflectir acerca deste tema. Se o sentido da nossa vida é uma base escolhida por nós, então nós próprios podemos colocarmo-nos na posição de um juiz, em que cada ser humano se pergunta se a sua vida tem sentido. E posta assim a pergunta, a resposta depende de cada um, uma vez que a vida é um conjunto de acontecimentos e sensações vividas no interior de cada um de nós. O que pode ter sentido para uma pessoa, pode não significar nada para outra. 
O sentido da vida é como se fosse a folha com o verbo “ter” conjugado. Desta forma, não há dois conjuntos folha+verbo conjugados, iguais, pois também não há dois sentidos de vida exatamente iguais: as folhas podem ser de linhas, quadriculadas ou lisas em todas as interferências sociais a nós impostas; as canetas não são todas da mesma cor, dependendo das condições históricas; e às vezes são escritas com a mão direita, outras com a mão esquerda, não variando sempre o tipo de letra, na marca da nossa herança genética. E, que anda nesta perspetiva de paralelismo, é curioso constatar que em folhas de papel se muda o rumo de uma nação, se altera o destino da humanidade- sendo grandes feitos criados, ficando pessoas na história- mas, também simples cartas são escritas e rascunhos- menores obras realizadas, menos vistosas e um tanto ao quanto mais platónicas e abstratas (na medida em que possuem uma menor visibilidade para as outras pessoas) A base é a mesma, tudo relacionado com um determinado sentido da vida: sentido que por vezes é descoberto, mas nem sempre encontrado. Numa enormidade e em mais ou menos complexas reflexões procuramos o destino para as nossas vidas, tentamos descobri-la, porque descobrir implica procura e a incerteza se algo é realmente encontrado. E, assim, em certos casos um determinado sentido é encontrado, mas noutros simplesmente se descobre que não há sentido e este não foi encontrado. Mas depois também há situações em que o sentido é encontrado sem que seja descoberto.(…) Desta questão do sentido da vida, e relacionado com os instintos humanos, Pascal referiu que “todas as ações do Homem tendem invariavelmente para a sua felicidade” (citado de memória). É uma realidade inegável que todas as nossas ações tendem para a felicidade individual, para o nosso bem-estar e realização pessoal. É, no entanto, estranho pensar em todos os casos de suicídios e situações em que o Homem, deliberadamente, opta pelo seu próprio sofrimento. Concordando que é uma situação estranha e algo incompreensível, resta-me apenas compreender e aceitar que essas escolhas surgem em função de determinado sentido da vida (ou falta dele) e, apenas por me achar incapaz de fazer algo do género, não os torna menos meritórios. Esta tendência para a felicidade, o próprio bem-estar e realização pessoal, são muito individuais e, por isso, apesar de estarem relacionados com o sentido, não o são de todo, porque não possuem o caráter de eternidade: o que é bem-estar e felicidade para nós hoje pode não o ser amanhã ou daqui a uns anos, e também porque nós não somos nós próprios apenas, a nossa felicidade e o nosso sentido não dependem só de nós. Nós somos nós, mas também somos os outros e aos outros também damos parte de nós. Desta forma, o sentido das nossas vidas é algo muito mais geral, universal e abrangente, dentro da nossa própria individualidade.”
Achámos oportuno analisar um outro ponto de vista acerca da questão que nos causa tantas dúvidas. A pergunta do sentido da vida para Susan Wolf é “provavelmente a que causa ao mesmo tempo mais desprezo e mais respeito pela filosofia. Por um lado é uma pergunta notoriamente vaga e deu azo a muitos disparates pomposos. Por outro, a necessidade de compreender o sentido da nossa existência é profunda e universal, apontando qualidades da mente que são possivelmente centrais para a existência humana.(…) Uma dificuldade significativa que rodeia este tópico é a falta de clareza do próprio tema, e as comparações que podemos fazer com outros contextos nos quais procuramos encontrar um sentido tendem a aumentar a confusão. Quando procuramos o sentido de palavras ou frases tentamos averiguar a forma como normalmente são usadas para comunicar. Porém, a vida não é um elemento num sistema de comunicação. Nada indica que seja usada ou que sirva para representar alguma coisa para além de si própria. Em certas circunstâncias, também falamos sobre o sentido de elementos não-linguísticos: as pegadas indicam a presença de alguém; as pintas vermelhas na pele de uma criança significam que tem sarampo. No entanto, as analogias com estes usos da palavra“sentido”não nos ajudam a responder à nossa pergunta.(3) Ou seja, tal como João Sobral, Susan Wolf defende que quando nos é colocada esta pergunta, as pessoas supõem logo que a vida tem um sentido, o que não é certo, pois ao questioná-la estamos automaticamente a tentar encontrar um propósito para a existência humana. Susan Wolf continua dizendo que apenas para a religião, esta questão do sentido da vida, adquire um caráter diferente “Se acreditarmos que um ser sobrenatural criou o mundo de acordo com um plano grandioso, então a nossa pergunta procura saber qual é a finalidade desse plano ou qual é o lugar que a vida nele ocupa. No entanto, não se pode reduzir o tópico filosófico do sentido da vida — ou, melhor, o conjunto de tópicos interrelacionados que ao longo do tempo têm vindo a ser associados à nossa pergunta — a questões que só fazem sentido no âmbito da religião.”(…) Portanto, indagar sobre o sentido da vida é como envolvermo-nos numa busca em que só estamos certos daquilo que procuramos quando o encontramos. Qualquer tentativa de arranjar uma paráfrase inequívoca para a expressão “o sentido da vida” está sujeita, tal como a própria expressão, a excluir certas opções e suprimir caminhos de questionamento que não deveriam ser abandonados de antemão”.(2)
Daqui concluo que a questão do sentido da vida se relaciona inteiramente com a ética. “Falar de «algo pelo qual viver» tem um certo travo vagamente religioso, mas muitas pessoas que não são absolutamente nada religiosas têm uma sensação incómoda de poderem estar a deixar escapar qualquer coisa básica que conferiria às suas vidas uma importância que, de momento, lhes falta. E estas pessoas também não têm qualquer compromisso profundo com uma cor política. Ao longo do último século, a luta política ocupou frequentemente o lugar que era consagrado à religião noutros tempos e culturas. Ninguém que reflicta acerca da nossa história recente pode agora acreditar que a política, por si só, bastará para resolver todos os nossos problemas. Mas para que outra coisa poderemos viver? No presente livro, dou uma resposta. É tão antiga como o alvor da filosofia, mas tão necessária nas circunstâncias actuais como sempre foi. A resposta é que podemos viver uma vida ética. Ao fazê-lo, passaremos a integrar uma vasta tradição que atravessa culturas. Além disso, descobriremos que viver uma vida ética não constitui um sacrifício pessoal, mas uma realização pessoal”(3)
(1) http://filosofiaemalbergaria.blogspot.pt/2012/06/procurando-o-sentido-por-joao-sobral.html
(2) http://criticanarede.com/met_sentidodavida.html 
(3) SINGER, PETER. Como Havemos de Viver?: A ética numa época de individualismo, pp. 13-14 


Ana Soares, 11ºC,  Qual é a relação entre a experiência da morte e o Sentido da vida?, pg.4-6, AEAAV, 2013