Em torno do conceito de Semiótica

SIMBOLOS? Estou farto de símbolos...
Mas dizem-me que tudo é símbolo.
Todos me dizem nada.
Quais símbolos? Sonhos. –
Que o sol seja um símbolo, está bem...
Que a lua seja um símbolo, está bem...
Que a terra seja um símbolo, está bem...
Mas quem repara no sol senão quando a chuva cessa,
E ele rompe as nuvens e aponta pra trás das coisas,
Para o azul do céu?
Fernando Pessoa /Álvaro de Campos (Obra poética)

“O mundo”, diz Per Aage, “é fundamentalmente um mundo de constrangimentos.”. A linguagem é o meio de que dispomos para entendermos e nos entendermos com as coisas. O modo como usamos a linguagem – enquanto operador comunicativo e cognitivo – para criar esse entendimento é o objecto da semiótica.
Como escreve J. Courtés : “A semiótica – tal como ela será aqui considerada – tem por objectivo a exploração do sentido. Isto significa, em primeiro lugar, que ela não se reduz somente à descrição da comunicação (definida como a transmissão de uma mensagem de um emissor para um receptor): englobando-a, ela deve dar conta de um processo muito mais geral, o da significação.
Restringir o campo semiótico à comunicação, como fazem alguns, consiste muitas vezes em postular uma “intenção” de comunicar, cujo estatuto será sempre muito difícil de precisar: a que nível, com efeito, colocar a “intenção” (psicológica, sociológica, etc.) e segundo que critérios reconhecer a sua existência? É ela somente da ordem do explícito, ou será necessário ter em conta o implícito? Noutros termos, o campo da comunicação (concebida como um fazer-saber) poderá ser delimitado por um querer-comunicar, um querer-fazer-saber? O que acontecerá com a comunicação efectiva mas não voluntária (ex: aquele que “se trai”) ou constrangedora (por uma fazer-querer-comunicar), devido a ameaça, por exemplo? (…)
A descrição da significação não deixa de colocar a questão mesma da sua possibilidade, pelo menos numa perspectiva que se quer científica. Na medida em que ela trata do sentido, a semiótica – como qualquer investigação sobre a significação – só pode ser a “transposição de um nível de linguagem num outro, de uma linguagem numa outra diferente”. Deste ponto de vista a semiótica define-se como uma metalinguagem em relação ao universo de sentido que ela se dá como objecto de análise. Ela não se reduz por isso a uma simples paráfrase que restituiria, sob uma outra forma, os dados de base, segundo um princípio de equivalência: neste caso, com efeito, a melhor equivalência de um texto, por exemplo, é este mesmo texto.”
Se a semiótica é uma transcodificação, ela é também mais do que isso. Enquanto operação de descrição, ela deve precisar o ou os níveis de análise em que pretende situar-se: isto significa que ela considera os objectos que estuda só sob um aspecto bem determinado que lhes é comum: tal é o princípio de pertinência. Tratando de uma colecção de dados, o fazer semiótico só se exercerá na medida em que retiver apenas as suas características comuns (…), para extrair o sentido, a semiótica postula que o estudo da significação só pode ser feito por abordagens diversificadas e distintas, isto é, segundo níveis diferentes , definidos eles-mesmos pelo conjunto de traços distintivos comuns aos (ou extraídos dos) objectos estudados.
in semioticacc.wordpress.com