Helenismo e mundo actual

É muito frequente as pessoas ficarem admiradas com os seguidores do Helenismo. A cultura grega é uma "cultura morta" e, segundo a mentalidade vigente, a religião deve morrer com ela. Para além disso, a presença dos Gregos em Portugal (e que dizer dos pobres seguidores na Inglaterra, EUA ou Austrália) foi quase nula. Não é bem assim, como veremos já de seguida.
A Grécia foi na verdade a mãe da cultura Ocidental e não inventámos praticamente nada verdadeiramente surpreendente desde então: o pensamento ocidental identifica-se quase perfeitamente na mentalidade Grega e aquilo que julgamos coisas modernas, como o crédito, a ciência, a mentalidade, até mesmo o feminismo (que embora não existisse em Atenas, a nossa principal fonte de conhecimento, existia noutras regiões) são invenções gregas.
Comecemos pela ciência. Os gregos foram os primeiros a questionar o mundo, através da filosofia, e acabaram por inventar a ciência ao procurar explicações racionais para os fenómenos que os rodeavam. Os conceitos básicos de átomos, forças físicas e classificação foram inventados na Grécia. As grandes ciências, como a Física, a Química e a Biologia, tiveram começo neste país. Os primeiros sinais de indústria e tecnologia remontam a esta época e se o desenvolvimento parou foi devido à actuação da Igreja que desejava o monopólio da mente.
Em homenagem a estes grandes pensadores, em ciências e outras áreas ainda usamos o Grego, juntamente com o latim, para formar as designações, desde os nomes em latim dos animais e plantas, como Apis melissa (abelha e mel em grego), passando por designações de estruturas como músculo deltoide (do delta grego) a procedimentos, como dactilografia (do grego dactyloi, dedos). Muitos nomes que usamos derivam do grego, oftalmologia (oftoi, olhos, logos, razão), biologia (bios, vida, logos, razão), política (polis, cidade), arquitectura (arkos, ancestral), ginásio (gymnos, nu), afrodisíaco (Afrodite), erótico (Eros), até mesmo pornografia (pornos e graphos, imagem).
Para além da ciência, outras áreas da cultura são devidos aos gregos. O nosso alfabeto deriva do alfabeto grego e, embora eles não tenham sido os inventores do alfabeto em si, as vogais foram inventadas por eles. Também a literatura, a base das nossas actuais formas de divertimento, como desporto competitivo, teatro e, consequentemente, televisão e cinema, são invenções dos gregos.
Na área da política, para além de inventarem a política em si, entre passagem em diversos tipos de regimes e as artes de bem falar, como a oratória, a semântica, entre outras, inventaram a democracia, que era diferente da nossa, mas na qual ela se baseou.
Na medicina foram os inventores do pensamento moderno que assenta no estudo físico e mental do corpo e não nas divagações filosóficas ou sistemas religiosos. Inventaram a anatomia e um grego, Hipócrates, é apelidado de pai da medicina moderna, sendo que ainda todos os médicos efectuam o Juramento de Hipócrates.
A anatomia foi também importante no desenvolvimento das artes, tanto da escultura como da pintura. A sua arte primava pela simplicidade e assentava num conjunto de estruturas e formalidades, nomeadamente a nível da arquitectura, que ainda hoje usamos.
Também a nível económico os gregos são nossos percursores, tendo sido os inventores dos bancos e, inclusive, dos empréstimos, crédito e seguros. Inventaram ainda a moeda tal como a conhecemos, primeiro como pedaço redondo de metal, depois como cunhada em ambas as faces, como diferentes metais para diferentes valores e, finalmente, para evitar tamanhos embaraçosamente pequenos, moedas que valiam mais que o metal que as constituía, como hoje em dia.
Inventaram ainda a história e antropologia, interessando-se vivamente pelo registo e estudo dos acontecimentos e pela sua origem verdadeira.
Finalmente, ainda hoje a religião reflecte os princípios gregos, desde a estrutura ritual passando às considerações teológicas da Igreja, que não são mais que adaptações da filosofia de Platão. O próprio conceito de Deus e o seu nome deriva do conceito grego de Zeus. Muitos santos e respectivos mitos também derivam de Deuses gregos e romanos, bem como de todas as culturas pagãs. Os próprios anjos, do grego angelos, e toda a hierarquia divina, têm bases nas concepções gregas platónicas e neo-platónicas.
Em suma, é difícil acreditar que a cultura grega desapareceu ou que os Deuses gregos morreram quando basta olhar em volta para vê-los presentes no nosso subconsciente, desde as Missões Apolo à Lua, passando pelos símbolos da Medicina e de variadas empresas, até às actividades mundanas e pretensamente modernas que enchem o nosso dia a dia.
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