Portugal e a Europa

“Porém, vendo na Europa o eldorado bem-aventurado da Terra sem Mal, tornámo-nos europeus com a mesma inocência angélica, isto é, ingénua e dogmática, com que no passado fôramos imperiais e colonialistas, como a ortodoxia católica imaginara ser Portugal o Paraíso terrestre sob o Estado Novo e como a ortodoxia comunista imaginara ser a União Soviética o “Sol da Terra”. Neste sentido, tornámo-nos heterodoxos porque a democracia e a liberdade a isso nos impunham, mas, dentro da heterodoxia, logo buscámos uma Terra Prometida, mãe consoladora e remédio de todos os males.”
Miguel Real, Eduardo Lourenço e a Cultura Portuguesa, Lisboa, Quidnovi, 2008, p. 19