Arte e prazer - Gordon Graham

A visão comum de que a arte se encontra no prazer que dela obtemos foi considerada deficiente em vários aspectos. Primeiro, não é claro que o que é em geral visto como o melhor na arte seja, excepto para aqueles "laboriosamente preparados para o desfrutar", uma verdadeira fonte de diversão. Segundo, se o valor da arte é o prazer, isso faz com que seja quase impossível explicar as várias discriminações que são estabelecidas entre, e no interior de várias obras e formas de arte. Terceiro, é difícil ver como é que a teoria do prazer poderia sustentar os tipos de distinções avaliativas feitas entre arte e não-arte nas instituições culturais e educacionais da nossa sociedade. Podemos tentar remendar a teoria do prazer falando de prazeres mais elevados, ou distintamente estéticos. Mas, na verdade, nenhuma dessas distinções parece ser sustentável. Mesmo se substituirmos o prazer estético por uma concepção kantiana de beleza, somos conduzidos na direcção errada, nomeadamente em direcção ao estado mental do público e, assim, parece que perdemos qualquer possibilidade de explicar o valor peculiar das obras de arte em si mesmas.
Deve notar-se que nada na argumentação contra a teoria do prazer sugere que a arte não possa entreter ou que as pessoas nunca possam ser entretidas por ela, nem que algumas coisas comummente vistas como obras de arte não sejam valorizadas principalmente por causa do prazer que proporcionam. E a argumentação também não nega que quadros ou peças musicais sejam belos e sejam em parte valorizados por isso. Tudo o que a argumentação mostrou, até ao momento, é que se o principal valor da arte residisse no prazer que deve ser derivado dela, ou em ser uma ocasião para juízos de beleza, a arte não poderia receber a alta estima que normalmente lhe atribuímos.
Gordon Graham, Trad. Carlos Leone, Filosofia das Artes: Introdução à Estética, Edições 70.