Três razões para estudar Filosofia

Uma razão importante para estudar filosofia é o facto de esta lidar com questões fundamentais acerca
do sentido da nossa existência. A maior parte das pessoas, num ou noutro momento da sua vida, já se interrogou a respeito de questões filosóficas. Por que estamos aqui? Há alguma demonstração da existência de Deus? As nossas vidas têm algum propósito? O que faz com que algumas acções sejam moralmente boas ou más? Poderemos alguma vez ter justificação para violar a lei? Poderá a nossa vida ser apenas um sonho? É a mente diferente do corpo, ou seremos apenas seres físicos? Como progride a ciência? O que é a arte? E assim por diante.
A maior parte das pessoas que estudam filosofia acha importante que cada um de nós examine estas questões. Alguns até defendem que não vale a pena viver sem as examinar. Persistir numa existência rotineira sem jamais examinar os princípios na qual esta se baseia pode ser como conduzir um automóvel que nunca foi à revisão.
Podemos justificadamente confiar nos travões, na direcção e no motor, uma vez que sempre funcionaram suficientemente bem até agora; mas esta confiança pode ser completamente injustificada: Os travões podem ter uma deficiência e falharem precisamente quando mais precisamos deles. Analogamente, os princípios nos quais a nossa vida se baseia podem ser inteiramente sólidos; mas, até os termos examinados, não podemos ter a certeza disso.
Contudo, mesmo que não duvidemos seriamente da solidez dos princípios em que baseamos a nossa vida, podemos estar a empobrecê-la, ao recusarmo-nos a usar a nossa capacidade de pensar. Muitas pessoas acham que dá demasiado trabalho ou que é excssivamente inquietante colocar este tipo de questões fudamentais: podem sentir-se satisfeitos e confortáveis com os seus preconceitos. Mas há pessoas que têm um forte desejo de encontrar respostas a questões filosóficas que representem um desafio.
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Outra razão para estudar filosofia é o facto de isso nos proporcionar uma boa maneira de aprender a pensar mais claramente sobre um vasto leque de assuntos. Os métodos do pensamento filosófico podem ser úteis em variadíssimas situações, uma vez que, ao analizar os argumentos a favor e contra qualquer posição, adquirimos aptidões que podem ser aplicadas noutras áreas da vida. Muitas pessoas que esudam filosofia aplicam depois as suas aptidões a profissões tão diferentes quanto o direito, a informática e o jornalismo - áreas onde a clareza de pensamento é um grande trunfo.
Os filósofos usam também a perspicácia que adquirem acerca da natureza da existência humana quando se voltam para as artes: alguns filósofos foram também romancistas, críticos, poetas, realizadores de cinema e dramaturgos de sucesso.
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Outra justificação ainda para o estudo da filosofia é o facto de, para muitas pessoas, esta ser uma actividade que dá imenso prazer. Mas é preciso dizer qualquer coisa acerca desta defesa da filosofia. O seu perigo é ser tomada como uma redução da actividade filosófica a qualquer coisa equivalente à resolução de palavras cruzadas. Por vezes, a atitude que os filósofos têm em relação à filosofia pode parecer-se muito com isso: alguns filósofos profissionais ficam obcecados com a resolução de enigmas lógicos obscuros como um fim em si, publicando os seus resultados em revistas esotéricas.
No outro extremo, alguns filósofos que trabalham nas universidades encaram-se a si próprios como parte de um «negócio», publicando o que muitas vezes são estudos medíocres unicamente porque isso os fará prosperar e ser promovidos (uma vez que a quantidade de publicações é um factor que determina a promoção). Dá-lhes prazer ver o seu nome impresso, ganhar mais e usufruir do prestígio associado à promoção. Felizmente, contudo, muita da filosofia eleva-se acima deste nível.

Nigel Warburton - Elementos Básicos de Filosofia, ed. gradiva, Lisboa, 2.ª edição